Karina Frez Cursino & Adriano Carneiro. Além das Palavras. Brasil. 2024.
A inquietude e os questionamentos que permeiam as obras de Lino, no que diz respeito a estrutura e ao conteúdo, movimentam a ideia de “experiências corais”, apresentada em Objetos verbais não identificados: um ensaio de Flora Süssekind (2013). A partir da observação da crescente presença de “formas corais” na literatura brasileira contemporânea, Süssekind contribui ainda para a reflexa o da literatura contemporânea fora do território brasileiro, permitindo que possamos pensar em Aula de Música a partir de suas características corais, que preveem um tensionamento propositado de géneros, repertório e categorias basilares capaz de questionar tanto a hora histórica, quanto o próprio campo literário. Na experiencia coral de Lino, cruzam-se vozes, elementos na o verbais, sobrepõem-se registros e modos expressivos diversos, criando a instabilidade cada vez mais presente nas produções atuais.
Biana Raupp Mayer & Rita Freitas. Muitas Vozes. Brasil. 2024.
Na variação XVIII, então, um contraponto ao pedido de reinvenção da antiga Lisboa, em um formato de happening, é feito por Lino. Nela, pode-se ler e visualizar o que parece ser uma conversa íntima entre as duas portuguesas. Tem-se a perspectiva de que o poema-variação pode ser lido à medida em que Lino o digita, isto é, o poema pode ser lido ao mesmo tempo em que é criado: temos a impressão de estar observando a tela de um computador, que cede espaço às falas de Lino – o que nos traz, também, a sensação de certa imprevisibilidade e intimidade de um texto verbal que performaticamente é emitido ao mesmo tempo em que se é recebido, tal como acontece em uma conversação em um chat virtual.
Margarida Vale de Gato & Nuno Marques. The Routledge Companion to Ecopoetics. England. 2023.
We propose an oceanic ecopoetics in the work of women poets writing in Portuguese. Our reading focuses on different contributions and examples of this ecopoetics in poems by Brazilian poets Mar Becker, Júlia Hansen, Letícia Novaes (Letrux), Ana Martins Marques, Beatriz RGB and Nina Rizzi and Portuguese poets Sophia de Mello Breyner Andresen, Fiama Hasse Pais Brandão, Patrícia Lino and Inês Francisco Jacob. These works take the Atlantic Ocean both as elemental and as a site of cultural production, unveiling a history of heteropatriarchal projects of colonization and exploitation, and gendered and racialized constructions of bodies and of nature. They also propose alternative epistemologies and interdependent beings with(in) our terraqueous planet by evidencing and exploring the material conditions and linguistic expressions of interspecies encounters through and with the sea.
Paulo Alberto Sales. eLyra. Portugal. 2023.
O gesto repetitivo da escrita em Patrícia Lino é, também, plural: repetem-se, por outros meios, uma escrita do desenho, uma escrita da música, de um filme e, todos emaranhados, marcam uma poesia-mundo, sem limites geográficos definidos. E, segundo Pedro Eiras (2020) – que faz o posfácio de Não é isto um livro –, essas escritas não são simplesmente repetições de elementos de hipotextos diversos, mas reafirmam, por meio da reprogramação, que não há diferença nem separação. Nesse sentido, o trabalho da poeta consiste tanto nas suas palavras como na sua lição gráfica, na ocupação do espaço, no jogo de ênfases – maiúsculas, negritos –, na resposta ao enrugado da página e na fúria contida naquela mão que escreve, invisível mas subjacente. Lino evidencia que a música está no poema, que há quase prosa em “Caleidoscópio”, que rimam os versos de “Soneto velcro” e que a voz diz e canta em “Four of Lino’s sadly unfinished feelings” ou em “Manual do sobredotado”. Tudo é desapropriado porque não há mais um território reconhecível.
Clelio Toffoli Jr.. Metamorfoses. Brasil. 2023.
Lino ironiza o “complexo de superioridade” do português em relação aos naturais das ex-colônias, mesmo que tenha que se forçar a isso subindo no banquinho para se mostrar superior, ao mesmo tempo que escarnece do “complexo de inferioridade” desse mesmo português em relação aos europeus do Norte, numa verdadeira relação de saber quem manda.Note-se o uso do humor cáustico nessa dicotomia, valendo-se da surrealidade do absurdo da situação, situando o texto na exata zona em que a engenhosidade se transforma em delírio, o que valia numa linha antes (superioridade), na seguinte deixa de valer para ser o seu oposto (inferioridade). Trabalho para o inconsciente também, que deve lidar com esses sinais trocados, decifrando o signo.
Paulo Alberto Sales. Diadorim. Brasil. 2023.
Em seu livro audiovisual Anticorpo, ao se apropriar de vídeos com imagens dos discursos de Salazar e, ao mesmo tempo, entrecortando-os com mensagens contestadoras – “o colonizado sustenta o patriarcado” –, Lino trabalha com elementos ready-mades e com sobrecolagens de elementos de diferentes grupos étnicos, com destaque para as mulheres e ao grupo dos LGBTQIAP+. Nesse Anti-corpo multimodal, que questiona sua formação e a funcionalidade de seus “membros”, surgem outras vozes que estão em busca de seus direitos que agem no desmonte das máquinas coloniais por meio de estratégias verbo-sonoro-visuais patéticas e ridicularizadoras.
Franklin Pontes. Boletim 3x22. Universidade de São Paulo. Brasil. 2023.
3X22: O nome do nosso boletim é “Travessias”. Estamos refletindo sobre essa influência de trânsito entre nós, do Brasil, de países africanos de língua oficial portuguesa e de Portugal. Entre Pessoa-Bandeira-Craveirinha, digamos assim. Como esse trânsito literário se faz presente na sua obra poética e em sua vida pessoal/profissional?
P.L: Vivo e movo-me permanentemente entre quatro ou mais culturas. Cresci e vivi em Portugal até aos 23 anos, idade com que imigro para os Estados Unidos, ensino literaturas afro-luso-brasileiras na UCLA, trabalho e colaboro, como investigadora e poeta, com poesia brasileira e portuguesa contemporâneas e colegas e amigas(os) brasileiras(os), portuguesas(es) e afrodescendentes. Tento, também, ler e estudar tudo o que posso sobre a poesia da américa latina hispanofalante. Convivo, além do mais, todos os dias com latino-americanas(os) vindas(os) de todos os lugares da américa central e do sul. Aprendo muito, política e emocionalmente, com tudo isto, o que se reflete nos temas sobre os quais escolho escrever e no modo como o faço.
Karina Frez Cursino e Adriano Carneiro. NEMETYRA. Paraguay. 2023. ÑEMITỸRÃ
Patrícia demonstra o quanto anacrônica e absurda é esta ideia. Os vários itens que integram o Kit são paliativos para cuidar de um paciente em estado de morbidade absoluta. É medicina paliativa para tratar fantasticamente de zumbis. O sentido deve deslizar da figura do “descobridor português” para aqueles que alimentam essa ideia de grandiosidade para o passado colonial português; para aqueles que se banham na ideia de “saudade”, para aqueles que são viúvas salazaristas, fascistas com ou sem carteirinha, racistas de todas as espécies, saudosistas do domínio da escravidão colonial, machistas empertigados e enfadonhos, cultuadores dos white dead men. Cada item do kit de sobrevivência é uma isca para descobrir e identificar fascistas e para tripudiar de suas convicções políticas, artísticas, sociais, religiosas e tudo o mais.
Laura Pilan. Estadão. Brasil. 2023.
Em Barriga ao Alto, poucos de seus traços recuperam a poesia tradicional – há uma sinuosa curva que desvia o texto das expectativas para um poema convencional. Há vestígios e reminiscências de um esqueleto em versos. No entanto, não há uma métrica calculada ou um esquema de rimas definido. Ainda assim, poucos articularam-se tão bem com os artistas de sua época quanto Gertrude Stein: como modo de representação, escolhe algo que pode ser chamado de autenticamente modernista.
PublishNews, Redação. Brasil. 2023.
Barriga ao alto (Macondo, 124 pp, R$ 53,20) chega pela primeira vez ao público brasileiro em um jogo erótico de línguas em constante movimento. Traduzido do inglês pela poeta portuguesa Patrícia Lino, os versos passaram por uma segunda tradução, dessa vez rearranjados na variante brasileira do idioma, implicando novos saltos e reconfigurações. Na obra, Gertrude Stein, uma das artistas mais originais e inventivas escritoras do modernismo norte-americano, apresenta um longo poema de amor, o qual acredita-se ter sido escrito para sua companheira Alice B. Toklas durante a viagem que elas realizaram para Maiorca, na Espanha, em 1915.
Walter Porto. Folha de S. Paulo. Brasil. 2023.
A Macondo publica ainda este mês, pela primeira vez no país, um grande poema erótico de Gertrude Stein, escritora e editora lésbica fundamental para o modernismo americano. "Barriga ao Alto" terá tradução da poeta portuguesa Patrícia Lino, que veio à Flip, em parceria com o editor Otávio Campos.
Alan Mendoza Sosa. Yale Macmillan Center News. United States. 2023.
AMS: — Could you tell our readers who are unfamiliar with expanded poetry what it is?
PL: — On the one hand, the association of the terms “poetry” and “expanded” is paradoxical. Poetry, since its beginnings, has always been expanded and has been linked to the idea of making something both corporally and intermedially. On the other hand, the association between “poetry” and “expanded” contradicts the logocentric and occidental tendency of modern poetry and reminds us, at the same time, of the importance and validity of the plural, unoriginal, and infinite qualities and possibilities of the poem, which, in addition to being verbal, can be visual, audiovisual, three-dimensional, performative, interactive, olfactory, gustative, or cinematographically conceived — as is the case for the poem in comics. In other words, the expanded poem is a composition contrary to the hierarchy of expressions, in which the word traditionally (and colonially) occupies the top, and image, sound or gesture are relegated to, respectively, second, third and fourth places.
Alan Mendoza Sosa. Asymptote Journal. United States. 2023.
In this whirlwind and evocative interview, Asymptote contributor Alan Mendoza Sosa sits down with poet and professor Patrícia Lino to discuss just one of her many innovative approaches to poetry critique and response, the “infraleitura.” Based in expanded poetry, in which the word is not the ultimate form of expression, the “infraleitura” bypasses text to reach a visual, sonic, and tactile dialogue between poetic works as well as between poets. The “infraleitura” is ultimately a work of community; here, we are brought into the dialogue with a call to—in Lino’s words—“use it and transform it endlessly.”
Leonardo von Pfeil Rommel. Via Atlântica, USP. Brasil. 2022.
Os poemas-imagens de Patrícia Lino buscam efetuar uma descolonização do imaginário português e europeu contemporâneos. Os objetos do Kit evocam a memória imperial para, em seguida, a desautorizar, apresentando o seu lado avesso, desumano e obscuro. Conforme Linda Hutcheon (1991, p. 78), a arte pós-moderna “é histórica e política”, sendo intensamente marcada pela desconstrução das grandes narrativas legitimadoras herdadas do passado. Ainda de acordo com Hutcheon (1991, p. 80), “o que a arte e a teoria pós-modernista têm em comum é uma consciência das práticas e instituições sociais que as modelam”. A literatura pós-moderna busca assim, “inquietar-nos, (...) fazer-nos questionar nossos pressupostos” (HUTCHEON, 1991, p. 81) e a forma como entendemos a sociedade em que vivemos.
Paulo Benites e Josemar Macial. Veredas. Brasil. 2022.
Essa virada no entendimento da imagem se dá no cruzamento do eixo central do poema, que amarra suas três partes: a tensão entre sobreviver e morrer. De um lado, a sobrevivência demanda o deslocamento, mas por outro, traz consigo a sombra permanente da morte. O museu, mencionado no final do poema, espaço do arquivamento da memória, é o espaço mesmo do fantasma dos indocumentados. Ao vermos as pantufas sob uma condição estética, lembramos das palavras acertadas do crítico de arte francês Didi-Huberman ao pensar a condição mesma da imagem:“[...]cada coisa a ver, por mais exposta, por mais neutra de aparência que seja, torna-se inelutável quando uma perda a suporta, e desse ponto nos olha, nos concerne, nos persegue (DIDI-HUBERMAN, 2010, p. 33 grifo no original). O fantasma, desse modo, é essa permanência constante, presente na sujeira das pantufas. O fantasma, portanto, ocupa um “entre-lugar” no espaço do real e do irreal. Diante desse quadro, as questões que ainda insistem são: o que há de permanente nas pantufas que se efetivam como uma experiência vivida? Há algo que possa explicar, no plano agora tornado estético, tamanho contrassenso? A resposta possível nos leva imediatamente ao verso final do poema: “Não há estética onde não há Deus”.
Paulo Alberto Sales. Revista do NEPA/UFF. Brasil. 2022.
No caso específico da poesia portuguesa contemporânea, mais especificamente nos processos de criação de Patrícia Lino (1990 -), nota-se o caráter de uma poética intermidiática feita “como se”, na qual são apropriadas diferentes referências intermidiáticas, sobretudo ligadas a uma releitura irônica e paródica por meio de um tom denunciativo dos absurdos presentes nos discursos coloniais portugueses. Em seus diferentes produtos culturais, notam-se combinações de elementos das artes visuais, da música eletrônica, da performance, de filmagens e de diferentes intertextos que têm no vasto campo lusófono o alvo de sua ironia. Textos-instalações, livros-audiovisuais, poemas-performances adaptados ao formato cinematográfico, colagens e apropriações de textualidades que agem no desmonte de mentalidades arraigadas em discursos de teor homofóbico, misógino, patriarcalista, racista e xenófobo.
Paulo Alberto Sales. Entrelaces. Brasil. 2022.
A produção de Patrícia Lino, embora ainda muito recente, tem despertado a atenção da crítica em diversos aspectos, seja pela transdiciplinaridade típica de suas composições, seja pelas transliterações presentes em seus escritos que tendem a expandir os campos de criação poética aos do universo das tecnologias digitais. Seus trabalhos dialogam com vertentes norte-americanas da chamada “escrita não-criativa” [Uncreative writing: managing language in the digital age], de Kenneth Goldsmith (2011) e do “gênio não original” [Unoriginal genius: poetry by other means in the new century], de Marjorie Perloff (2013), ao destacar como as artes e a literatura, na era digital, têm se servido cada vez mais de ferramentas e mecanismos disponibilizados por computadores, que transferem conteúdos de arquivo de um suporte para outro. Essas práticas comuns da cibercultura, tais como as reutilizações e os reaproveitamentos, proliferam-se em sua poética por meio de escritas transmediais que, por sua vez, representam o espírito da sociedade pós-industrial
Ícaro Carvalho e Bianca Mayer. Entrelaces. Brasil. 2022.
No livro Antilógica (2018), Lino explica que a palavra labirinto teria se originado do grego labrys (λάβρυς), que, por sua vez, significaria machado de dois gumes . Nesse sentido, a retomada deste conceito, o labrys, pode tanto beneficiar interpretações acerca da dupla lâmina de um texto que se move entre o visual e o verbal, quanto acerca do caráter lúdico e bifurcado de um texto que, por isso, apresenta sempre múltiplos sentidos.
Bianca Mayer. ADobra. Brasil. 2022.
Se o poema “Aula de música” reconta o pouco conhecido mito grego de Lino, o HQ Aula de música faz um movimento de recontagem tanto do poema que a si próprio deu origem quanto do mito que originou o poema. Ao que parece, o HQ Aula de Música opera ora no furto de uma poética já validada pela lógica colonial das universidades do hemisfério norte, ora no furto de um gênero textual ainda muito pouco discutido no contexto dos estudos literários: cabe, pois, ao(à) leitor(a) bem transitar entre o Grego Clássico e a Pop Art.
Ewerton Martins Ribeiro. UFMG. Brasil. 2022.
Nesta quarta-feira, dia 31, às 10h, a poeta e pesquisadora portuguesa Patrícia Lino, que é professora de literaturas e cinema luso-brasileiros na Universidade da Califórnia (Ucla), nos Estados Unidos, vai ministrar palestra na UFMG sobre as possibilidades da escrita de poesia [...]. Patrícia resume sua intervenção, em que apresentará e debaterá uma série de poemas de sua própria lavra: “Vou dividir a apresentação em sessões: começo por ler poemas compostos apenas por palavras, ou seja, poemas 'tradicionais', e depois vou falar de poema performático, ‘teste e colagem’, o poema-escultura ou tridimensional, e aí vou mostrando projetos – uns mais curtos, outros mais longos – de livros que já fiz ou estou fazendo". [...] A palestra Aonde vai este pulso chucro: algumas notas sobre o fazer do poema será ministrada no auditório 2001 da Faculdade de Letras, no campus Pampulha, e é aberta ao público.
Cecília Itaborahy. Tribuna de Minas. Brasil. 2022.
“Aula de música” é a primeira publicação impressa do coletivo editorial Capiranhas do Parahybuna. O novo livro de Patrícia Lino é um poema em quadrinhos, que faz uma releitura da relação entre Orfeu e seu irmão Lino. É, também, a primeira vez que a poeta se mostra como quadrinista, apesar de em “O kit de sobrevivência do descobridor português no mundo anticolonial” já ter apresentado seus desenhos compondo poemas.
Alícia Gaspar. BUALA. Portugal. 2022.
AG: Em que projetos está envolvida atualmente?
PL: Terminei há pouco tempo um livro trilingue de poemas em quadrinhos (banda desenhada), Aula de Música, que será publicado em agosto no Brasil pelas Capiranhas do Parahybuna.
A segunda edição brasileira d’O Kit de Sobrevivência será lançada igualmente em agosto pelas Edições Macondo e incluirá cinco novos objetos. A Espingarda de Cânone Cerrado e o Colonialismo do Anticolonialismo são dois deles.
Estou prestes a fechar um ensaio sobre o desenvolvimento intermedial da poesia brasileira do século XX que propõe, ao mesmo tempo, a infraleitura, um novo tipo de ensaio expandido concebido a partir da leitura anárquica, corporal e criativa de todas as dimensões do poema (verbal, visual, performática ou sonora) e recupera certos trabalhos ignorados pela crítica ao longo das últimas décadas. Entre eles e acima de tudo, a produção interdisciplinar ou híbrida das mulheres — Pagu, Julieta Barbara ou a ainda viva Neide de Sá.
Alma Miranda. Anuario de Letras Modernas. UNAM. México. 2022.
Ahora bien, aunque este libro produzca risas, no es una obra fácil, dado que se funda en la parodia, por lo que sus mejores receptores son quienes pueden reconocer el peso de lo que se está desacralizando en el Kit, además de quien pueda comprender el diálogo que, desde la irreverencia, la distancia y la posesión de diversos lenguajes, establece con monumentos literarios como Mensagem de Pessoa. En otras palabras, la comprensión del Kit implicaría que se conoce a fondo la cultura portuguesa y sus discursos.
Manual ficticio de artefactos imaginarios, catálogo ilustrado de objetos inexistentes, esta obra de Patrícia Lino, con su retórica verbo-visual, se ubica como una obra rebelde, no sólo ante la práctica ausencia de debate en torno a estos aspectos en Portugal, sino también frente a la beligerancia del discurso de la ultraderecha en su país.
Mónica González García. Itinerários, n. 53. Brasil. 2022.
Patrícia Lino é uma artista nascida em Portugal em 1990 e também professora de literatura e cinema luso-brasileiros no Departamento de Espanhol e Português da Universidade da Califórnia, em Los Angeles. Seu trabalho criativo mistura gêneros literários, registros artísticos, suportes mediáticos e novas tecnologias para oferecer artefatos extremamente lúdicos e críticos, marcados por olhares anticoloniais, antirracistas e feministas. No final de 2020, em plena pandemia, Patrícia publicou no Brasil e em Portugal O kit de sobrevivência do descobridor português no mundo anticolonial, obra interativa que excede a forma de livro que a contém e que convida interlocutoras e interlocutores a rir-se das fracas estratégias dos sujeitos imperiais que ainda tentam justificar essa versão da História que narra o colonialismo como um projeto civilizador. Num mundo em que a diversificação de vozes há tempos vem contribuindo para visibilizar os horrores que acompanharam a expansão europeia pelo globo (já o dizia Aimé Césaire, em 1950, no seu “Discurso sobre o colonialismo”), a de Patrícia Lino destaca-se pelo que Djamila Ribeiro chama de “lugar da fala”, isto é, uma voz de mulher portuguesa que se alça para questionar os paradoxos dos discursos fundacionais do seu país. Aliás, embora sua crítica tenha como alvo as nostalgias imperiais portuguesas, a obra bem pode servir como terapia anticolonial para todas as sujeitas e sujeitos coloniais do presente, parte das quais ainda não compreendemos, como, por exemplo, algumas autoridades da Espanha se orgulham do 12 de outubro, data ineludivelmente dolorosa para todos os povos originários das Américas.
Anelise de Freitas. Itinerários, n. 53. Brasil. 2022.
O livro, em 2021, foi escolhido como um dos 54 semifinalistas entre os 1.835 concorrentes do Pré(ê)mio Oceanos e consta como “poesia brasileira”. Essa escolha, tanto como semifinalista quanto figurar entre a poesia brasileira, não parece ser arbitrária. Lino possui uma vinculação com a literatura do Brasil e com poetas contemporâneos que estão em intensa produção na atualidade. Não só como leitora dessa literatura, mas também academicamente, uma vez que é professora adjunta de literaturas e cinema luso-brasileiros na UCLA, e a paródia e o anticolonialismo formam parte de sua inserção como pesquisadora; Lino atua também no conselho editorial da Edições Macondo, que publicou seu livro no Brasil, e coedita a revista brasileira de poesia e crítica Escamandro. Além disso, nesse livro, utiliza-se de um tom poético que, embora exprima uma construção pessoal de sua produção literária, também converge intimamente para o poema-piada e o antilirismo brasileiro. Esse último fato, por conseguinte, corrompe uma certa poesia portuguesa difundida no mundo lusófono, que se baseia no lirismo. Apesar de também haver na literatura medieval portuguesa o tom satírico para reprochar hábitos e costumes, a poesia de Lino, principalmente neste livro, dialoga mais com o antilirismo brasileiro e com o poema-objeto do Concretismo.
Paulo Alberto Sales. eLyra, n. 18. Portugal. 2022.
As dicções cômicas e ridicularizadoras se valem do humor como estratégia dessacralizadora das banalidades do mal colonizador. Nota-se, por meio da desapropriação dos sentidos “originais” presente nos códigos transcontextualizados (Hutcheon 1985) que marcam a diferença no coração da semelhança, tal como propõe a paródia, o exercício de investigação arqueológica e, ao mesmo tempo, de retratação satírica a respeito de um consenso nacional arraigado. Em todo o Kit, percebe-se, na proposição de poemas-piadas interdisciplinares, o humor ácido que age no desmonte de mentalidades por meio da tomada de uma posição literária diferente das já realizadas pelos grandes nomes incontornáveis da poesia portuguesa (Camões, Pessoa, Carlos de Oliveira, Jorge de Sena... e lista é exaustiva).
Sara Campino. eLyra, n. 18. Portugal. 2022.
Os objetos criados por Patrícia Lino exploram uma estética kitsch, que também está patente noutras opções da publicação como o “título de best-seller anacrónico” (Flores 2020: 182) e a “estrutura de um livro de autoajuda” (Lino 2021:239). Por um lado, nota-se a vontade de atribuir requinte a estes bens de consumo banais através da utilização de elementos decorativos pomposos, como acontece com o “Coitadinho” (2020: 134-137), à semelhança da estratégia publicitária utilizada pela marca “Calvert Reserve” quando persiste na bandeja prateada. Por outro lado, é necessário também convocar uma ideia de tradição ilustre através da ornamentação com heráldica nacionalista e retratos antigos de figuras históricas, como acontece com as pastilhas “DescobriMENTOS” (2020: 24-27) e as velas aromáticas “Caravelas” (2020: 60-63). Esta reconstituição de um tempo passado indeterminado que materializa um imaginário saudosista é reforçado pela im-pressão das imagens a preto e branco, o que contrasta com a perceção da ausência de cor nas fotografias trabalhadas por Brecht, Heartfield e Aragão, uma vez que nestes últimos exemplos de montagem não está em causa a autenticidade histórica dos documentos recortados nos arquivos da imprensa.
Miguel-Manso. COLÓQUIO/Letras, n. 209. Portugal. 2022.
Perante estas forças exclusivas, categóricas, homogeneizantes e hegemónicas, Patrícia escolhe contrapor-se com um discurso e uma acção irónicos, inclusivos e empáticos. Fá-lo em desfavor até da sua própria estabilização identitária e lugar no mundo: a autora prefere diluir-se entre as várias possibilidades, contribuindo para confundir quem busque situá-la. Não podemos deixar de sorrir ao vê-la figurar entre as autoras da recente antologia «Poetas Contemporâneas do Brasil» (poesia.org, 2021). Há ainda a questão de género e sexualidade que atravessa esta colectânea em muitos textos e cuja voltagem atinge especial potência em poemas como «Soninha» (86) e «Soneto Velcro» (88): «A quantas de nós, fressureiras / se cortou a garganta, os lábios, os dedos, a língua / as preces».
Luciana Salles. Geografias Literárias de Língua Portuguesa no Século XXI. Itália. 2021.
Indo ao encontro de Bachelard na reflexão sobre o espaço interno e o espaço externo, e reverberando os escritos de Edward Said, o riso provocado por Patrícia Lino agrega potência difusora à denúncia sobre o tratamento dispensado pelo olhar ocidental ao oriente ficcionalizado em fabuloso ou inimigo, traduzindo em humor uma discussão ainda muito presa ao academicismo.
Luiz Fernando Queiroz Melques. Revista Desassossego. Brasil. 2021.
Pela irreverência crítica, pelo necessário chacoalhão que não se furta de encarar questões polêmicas ou apontar construções falaciosas do cotidiano e por todo o demais exposto até aqui, ressalta-se a relevância da publicação de Lino. Além disso, recomenda-se que o livro seja uma porta de acesso às demais produções da autora, que tem criado espaços de reflexão a partir de diferentes formatos. Por último, gostaríamos ainda de valorizar a iniciativa da editora de tornar obras de novos poetas portugueses acessíveis ao público brasileiro.
Pedro Martins. Folha de S. Paulo. Brasil. 2021.
[É um livro que] expõe, através do riso, as inconsistências do nacionalismo, além de repensar as funções do próprio riso, que pode ser tão ou mais eficaz e violento do que o tom respeitável de certos debates', diz Lino. Com seu 'Kit', lançado no Brasil pela editora Macondo, ela chegou à semifinal do prêmio Oceanos, que seleciona as melhores obras do ano escritas em português.
Rodolfo Mata. Revista CULT. Brasil. 2021.
Para ler O kit de sobrevivência do descobridor português no mundo anticolonial, de Patrícia Lino, você não precisa de kit nenhum. Também não precisa ser português, nem estar numa situação de perigo iminente. O que você precisa é estar disposto a completar uns quebra-cabeças em que participam alguns fios da história colonial portuguesa, que se parecem muito com a história de outros países colonizadores, e uma sensibilidade disposta a embarcar (não numa caravela, claro) na aventura (sem pretensões de descobridor) de rir. Isso tudo sabendo que quando se ri diante de uma ironia ou uma paródia, doem certas partes do corpo, talvez o coração ou o fígado, mas, se ainda acreditamos em Descartes, talvez a glândula pineal, onde o filósofo francês dizia que se instalava a alma e se formavam nossos pensamentos. Ou seja, o que é quase indispensável é pensar, compreender que os brinquedos que Patrícia Lino nos apresenta no seu kit têm algumas pontas afiadas. E digo quase indispensável, porque às vezes a força desses objetos criados por ela nos atinge sem dar tempo para o pensamento se formar e nos marca com o carimbo mental da imagem.
Miguel-Manso. Revista El Malpensante. Colombia. 2021.
Lo que primero salta a la vista en los poemas-en-página de Lino es el estruendo multicolor con que estos se despliegan en el cielo de la inteligencia. El nombre que tiene el primer poema es representativo del todo: «Caleidoscopio» (9). En este texto en particular se enumeran hechos aparentemente aleatorios, disímiles entre sí, y que, informando poco, nos proponen la riqueza temática del libre fluir de las ideas. Tal vez el dique de un poema las sostenga un poco, para que se cumpla el gusto de la lectura, que antecede el del olvido. Se enumeran datos como el número de habitantes de Singapur; el color azul de unos cordones sobre un tapete; una traducción «pésima» de Aristóteles; caminar hacia atrás (¿?) en la carretera panamericana; «Las sacudidas homéricas del autobús (…) el cráneo danzarín de las gallinas»; el jazz que se oye con la barriga al cielo, los fonemas de la lengua portuguesa; Schrödinger y el gato; el tratado de botánica de Teofrasto; mensajes escritos en papelitos; canciones pop; el poema, a fin de cuentas, como máquina aglutinante, con sus «procesos de fragmentación».
Robert Patrick Newcomb. Journal of Lusophone Studies. United States. 2021.
Portuguese and Portugal-literate readers can enjoy the Kit, with its silly items, pithy portmanteaus, and sight gags, for its ironic humor alone. That several of the items described, including my personal favorite, the “Sebastiana,” a fog machine used to conjure the still-missing Dom Sebastião, would be difficult if not impossible to fit into a reasonably-sized kit adds to the book’s comedic value. But Lino is doing something more than telling jokes: she is using humor as a vehicle to intervene in Portugal’s ongoing memory battles, which in Portugal as in the U.S. have centered of late on monuments and museums, such as Lisbon’s proposed Museu dos Descobrimentos. Lino has represented the latter in an art piece, a “poema miniatura” entitled “Museu dos Descobrimentos: Portugal 2019,” as a building composed of three stacked caskets—a visual depiction of colonialism’s human cost. Lino links what, per Nietzsche, we might term the “monumental” narrative of Portuguese history and the nostalgia for empire to the anxiety of aggrieved, mainly white, male Portuguese “navigators” in the face of their perceived marginalization in the post-colonial, multicultural present. A number of objects included in the Kit seek to alleviate their anxiety.
Gustavo Reis Louro. eLyra. Portugal. 2021.
Em conversa recente que tive com a autora (via redes sociais, com a devida distância física que os tempos atuais pedem), ela me confidenciou como achava curioso que seu Kit venha sendo tratado como poesia, já que ela mesma não o havia concebido dessa forma. Eu repliquei que talvez pelo fato de ela ser poeta, e das grandes, tudo que ela publique no terreno da experimentação artística venha a ser compreendido assim. Uma espécie de comodidade ou mesmo preguiça crítica, uma nova prova de que “os contemporâneos não sabem ler”, como formulou Augusto de Campos. Há outras hipóteses a se figurar, sem dúvida, mas é igualmente verdadeiro que há um certo DNA dadaísta no Kit, na medida em que elenca objets trouvés poéticos, a partir dos ícones do Império Português, já tão poetizados.
Ricardo Vasconcelos. Luso-Brazilian Review. United States. 2021.
From the beginning it is clear that Lino’s book relies heavily on a visual schema to interpret Barros’s writings, which defines the structure of her book. Of course, it’s worth noting that Patrícia Lino is a visual artist in her own right, which inevitably ends up defining her creative approach. Her book index, for example, is laid out in a circular structure with a counterclockwise articulation of the book sections, defining the motion of the argumentation. The first movement, addressing death and earth, brings human bodies—the poet, the reader—closer to the ground, makes them try that humbling experience of touching the earth. The second movement shows a motion of carving through the soil in search for a primal cry and our possible origins, existential and discursive. The third movement is dedicated to the characterization of the poesia kínica in the classical period and as conceived in Manoel de Barros’s language. A fourth motion, not actually called movement, is a concluding section dedicated to what Lino calls “the second birth,” one that is materialized in fusions with nature and that is also focused on the symbol of the tree, namely linked to Barros’s poetic character of Bernardo da Mata.
Pedro Eiras. RCL — Revista de Comunicação e Linguagens. Portugal. 2021.
Para descrever este Kit, importa apresentar, em algumas linhas, a própria autora: Patrícia Lino é uma escritora portuguesa, uma especialista em literatura brasileira, professora na University of California Los Angeles. A esta pluralidade de lugares, acresce um verdadeiro “ofício múltiplo” (cf. Frias, Eiras e Martelo, org. 2017): Patrícia Lino é poetisa, artista plástica, performer, criadora de ilustrações, de vídeos, de um álbum de poesia “mixada”. Se insisto neste carácter vário e experimental da criação da autora, não é simplesmente como pano de fundo para descrever o Kit, mas porque existe aqui uma forte coerência: a pluralidade de experiências — lugares, linguagens, formas — gera uma cosmovisão aberta, atenta à diferença, em tudo distinta da cosmovisão fechada do suposto “descobridor português”.
Ana Cristina Joaquim. Palavra Comum. Galiza. 2021.
Com o seu gesto de publicação do kit, Patrícia Lino constata, ao mesmo tempo que atesta, que os “objetos imaginários” são tão históricos quanto “os objetos históricos”. Isso não significa que não haja diferenças entre o discurso literário e o discurso histórico (e os meios de que cada um dos discursos dispõe para levar adiante as disputas políticas, sociais, etc.). Isso significa que seus dois tipos de objetos, por assim dizer, passam a atravessar os cotidianos português e brasileiro, na exata medida em que disputam uma leitura do fato histórico em questão. Ambos ocupam o tempo presente. Um, por entender o presente como única temporalidade em que se faz possível qualquer ação, resposta ou indagação. Outro, por nunca ter deixado de ocupar o tempo presente, nas sucessivas “renovações” que o permitiram “se manter como tal”, tendo-se em vista a predominância da visão colonialista e todas as consequências no que diz respeito às determinações identitárias ao longo dos séculos.
Laura Assis. ADobra. Brasil. 2021.
Falar da obra de Patrícia Lino é se deparar sempre com um dilema: qual fio puxar? São muitos os potenciais caminhos dentro da produção dessa autora portuguesa, e a maior parte das suas obras trazem nuances e ramificações que esbarram nas artes plásticas, na estética, na história, na filosofia, no lirismo e na música.
Meu primeiro contato com a produção artística de Patrícia me deu a impressão de vislumbrar um mundo em toda a sua complexidade, engrenagens, possibilidades; entre poemas líricos (que estão em Não é isto um livro?, publicado pelas Edições Vestígios), vídeos, poesia visual, poesia mixada (no álbum I Who Cannot Sing, lançado pela Gralha Edições), performance, intervenção, entre outras para as quais ainda não me ocorre uma classificação, que sequer é necessária.
Guilherme Gontijo Flores. Revista do Centro de Estudos Portugueses, v. 40, n. 64. UFMG. Brasil. 2021.
Patrícia Lino é a estreante mais veterana que já vi. E isso ninguém discute. Nascida em 1990 e morando há alguns anos nos Estados Unidos, onde é professora na Universidade da Califórnia em Los Angeles, Lino produziu um verdadeiro tour de force em prazo exíguo, e digo com todas as palavras o que produziu em coisa de dozes meses apenas: fundou a revista Virada — literatura e crítica em dezembro de 2019, em parceria com Miguel Monteiro (este sediado em Coimbra), com uma proposta editorial que cruza ensaio e poesia experimental numa lusofonia ampla, raríssima de cá ou de lá do Atlântico, ou seja, editoração de risco e ação num mesmo gesto. Nestes noves meses incompletos de 2020, ano do caos e da melancolia, lançou Não é isto um livro pela Ediciones Vestigio, na Colômbia, em edição bilíngue, português-espanhol, com um conjunto de poemas em verso, prosa e experimento visual, onde o leitor pode encontrar pancadas de humor escancarado, lirismo enviesado, rasura, ironia etc., numa vertigem de técnicas e efeitos que é de poucos. Também terminou o curta-metragem Vibrant Hands. Como se não bastasse, conseguiu ainda lançar em site o álbum de mixagens I who cannot sing, em que manipula as vozes de outros poetas, vivos e mortos, além da própria voz e de instrumentos digitais, para produzir um álbum musical e poemas; no mínimo ironicamente, esse álbum já saiu poucos meses depois na forma áfona de um livro, pela Gralha Edições, também brasileira. Isso tudo, para não falar de Manoel de Barros e a poesia cínica: o círculo dos três movimentos com vista ao homem-árvore, publicado em meados de 2019 pela Relicário Edições; nem do livro audiovisual Anticorpo. Uma paródia do império risível, programado para sair Garupa Edições, entre 2020/21. É de fato um dínamo, como a apelidou André Capilé pelas redes sociais.
Isaac Giménez. Mester, v. 49. United States. 2021.
Most of Lino’s works confront readers/spectators (as well as reviewers) with their own prejudices. Not only does Anticorpo defy the idea of a book, and by extension literature, but more importantly it requires an engagement that goes beyond the logos and the solemnity associated with it. Traditionally, parody has been considered an inferior genre, a mere inversion of the original codes whose main aim is to critically tackle an issue through the lens of humor. In this sense, Lino’s playful elaboration does fulfill its purpose: to provoke an unpleasant and corrosive laughter that’s both infuriating and relatable. Perhaps the personal, ludic appropriation and repurposing of archival images is not new in the Lusophone arts, but it is definitely rare within the Portuguese literary field.
Laura Assis. Revista CULT. Brasil. 2020.
E isso porque um dos maiores acertos de I Who Cannot Sing é ter atingido em suas peças de poesia mixada uma organicidade que confere a elas uma existência muito própria. Se originam sim, claro, do poema e do mix, respectivamente, mas essa dupla natureza cria uma terceira, que não obedece às mesmas leis. Insistir num olhar classificador e metodológico talvez seria, então, mais ou menos como ir para outro planeta e querer se comportar da mesma forma ao se deparar com outra atmosfera, outra gravidade.
André Capilé. escamandro. Brasil. 2020.
hoje, em chaveamento parecido à adília em alguns aspectos, é bem que possível nos encontremos com patrícia lino. poeta forte nas tramas da multilinguagem, em plataformas diversas, que tem operado com muita inteligência, e humor, um projeto de calcinação dos modelos conservadores de ler a história portuguesa, a dos livros e a dos hábitos, por meio de, ai que me repito tanto, não me repila, sátiras & paródias. ela, patrícia, é professora de literatura e cinema luso-brasileiros na UCLA, investigadora do UCLA Latin American Institute e do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa, trabalhando, sobretudo, com poesia contemporânea e interdisciplinaridade. em todos os campos em que atua como pensamento, patrícia avança por linhas contracoloniais, desde dentro, nos informando duma outra maneira de existir portuguesa, e também do mundo, nosso mundo possível. ela, poeta em trânsito permanente, consegue atravessar sua criação a revés dos documentos oficiais, dinamizando com argúcia de rebel aquilo que é vedado dizer, entre outros pontos, mesmo no circuito poético do campo editorial português.
Catarina Real. Arte Capital. Interview. Portugal. 2020.
Depois de cinco anos e um doutoramento focado na poesia brasileira do século XX (e XXI também) e muitas aulas leccionadas - desde o português à literatura mexicana - partiu para Los Angeles, onde lecciona, desde Setembro de 2019, literatura, cinema e cultura brasileira e portuguesa. Patrícia tem uma voz madura, e um tom pausado, como quem ensina sempre que fala. Falámos do seu percurso, do seu trabalho, das suas obsessões, da interdisciplinaridade e do afecto que tem ao trabalho editorial de Nuno Moura, com olhos atentos e sem conservadorismo e com quem irá publicar, via Douda Correria, o seu próximo livro de ficção em Portugal: O Kit de Sobrevivência do Descobridor Português no Mundo Anticolonial.
Brenno Kenji Kaneyasu. Revista Pessoa. Brasil. 2020.
A poesia de Manoel ressurge, então, do estudo de Patrícia, com um afiado fio crítico social: de inventiva e lúdica, passa a anárquica, rebelde, irreverente, inovadora. Sua origem impossível no início dos tempos encontra sua contraparte possível no terreno social e quotidiano: da infância da humanidade à infância do homem, do olhar primitivo pré-linguístico ao olhar infantil pré-linguagem e seus análogos sociais.
José Pinto. escamandro. Brasil. 2020.
Nesse diálogo com os poemas e as leituras, a poeta-tradutora parece repartir a sua atenção sobretudo entre a escuta e a construção dos novos objetos, onde o tom de voz, a projeção vocal e a interpretação dxs poetas influem nas composições musicais. Os arranjos, por sua vez, resultam de colagens de sons retirados de websites de domínio público, programas profissionais de música e mixagem. Editados mais tarde ou não, a Patrícia vai articulando estes sons, beats e acordes com sons corporais ou gravados na rua e outros dos seus instrumentos, como o MIDI, o xilofone, as maracas ou o baixo.
Thadeu C. Santos. Revista de Estudos Portugueses. Brasil. 2020.
Em REVOLUTION (2019b, 2’16”), Patrícia Lino se aproxima do concretismo ao abrir diálogo direto com uma peça visual de Augusto de Campos, a “enigmagem” “Pentahexagrama para John Cage”, uma homenagem ao silêncio trabalhado pelo antiprocedimento fundamental do músico norteamericano. Campos centraliza a figura de uma pauta musical comum subvertida através da pontuação das notas musicais nos espaços brancos, quando habitualmente é feita nas linhas pretas. De que se trataria essa revolução? Lino reproduz com cores a imagem de Campos e uma nota de piano soa a cada mudança de coloração. O silêncio é quebrado por um acompanhamento sonoro monótono e vagaroso. No entanto, a palavra “revolution” é processada em diferentes estados de animação e, aparentemente, desacompanha a instrução sonora, promovendo um contraste em direção a uma vitalidade primaveril. A palavra “revolution”, pois, parece ganhar vida própria, desobedecendo com seus movimentos a ode ao silêncio e refazendo a perspectiva afixada anteriormente, tal qual uma anedota videográfica, que a imagem de Campos encapsulara.
Mary Anne Warken. Qorpus. Interview. Brasil. 2020.
— Conte um pouco sobre a sua relação com o trabalho de tradução. Como ocorre a dinâmica entre seu trabalho acadêmico na UCLA e seus trabalhos autorais e de tradução. Como esses talentos se relacionam? Você é autora antes de ser tradutora? Fale sobre seus mais recentes trabalhos autorais.
— Traduzo, na prática ou mentalmente, quase todos os dias. Do espanhol e inglês ao português, sobretudo. Poesia, mais do que qualquer outra coisa. De resto, o exercício de tradução inclui, para mim e ao mesmo tempo, vários processos. Não diz apenas respeito à tradução de um idioma a outro, mas de uma ou mais linguagens a outra(s). A ilustração, a musicalização ou a representação audiovisual são exercícios de tradução. Como ilustrar este verso? Como musicar esta estrofe? Como representar, através da imagem, do som e do movimento, aquela passagem? Ou, num raciocínio inverso, como escrever sobre um objeto visual, musical, audiovisual ou performático? O fazer ou a análise da poesia, pela natureza interdisciplinar da poesia (que se compõe formalmente de palavras, imagens, sons ou do corpo), leva muitas vezes, mais do que o fazer ou a análise de qualquer outro género literário, a perguntas como estas. Poder-se-ia dizer que trabalhar com poesia, sob o ponto de vista de quem a faz, pensa ou ensina, é trabalhar com tradução.
Camila Assad. Revista CULT. Brasil. 2020.
Patrícia Lino nasceu em Portugal em 1990. Apesar da pouca idade tem um currículo vasto, coleciona ocupações e endereços intercontinentais. É poeta, artista visual e professora de literatura e cinema luso-brasileiros na UCLA (University of California, Los Angeles). É doutora em literatura brasileira e autora de Antilógica (2018) e Manoel de Barros e A poesia cínica (2019). Dirigiu Vibrant hands (EUA, 2019) e Anticorpo – uma paródia do império risível (EUA, 2019; Brasil, 2020). Comecei a acompanhar sua produção e percebi que ela fazia muito mais do que simplesmente “escrever umas coisinhas”. Patrícia se abre para uma investigação profunda da poesia contemporânea, pesquisa com afinco a cultura visual e audiovisual e não demorou muito para eu ter certeza de que estava diante de um dos maiores nomes da literatura lusófona. Patrícia não tem medo de experimentar, e isso talvez seja o ingrediente principal pra todo jovem poeta.
Pedro Eiras. Catálogo de Poesia UNAM. México. 2019.
A Patrícia escreve, desenha, compõe, debate, provoca – inventa linguagens que não existiam.
Por isso, nestes poemas, há Homero e o Pão de Açúcar, Diógenes e os Smiths, Dante e Malevich, muito samba, pantufas terríveis, um apetite de kiwis, a denúncia das Taprobanas. E amor, humor, a infância reencontrada.
A Patrícia é – como dizê-lo melhor? – a Patrícia.
Álvaro Cortés. Catálogo de Poesia UNAM. México. 2019.
En los versos de Lino se deconstruye la cultura pop, el conocimiento académico, las emociones y el lenguaje, para dar forma a poemas de una engañosa sencillez y evidente necesidad de representar el cúmulo de ideas que nacen de su sensibilidad artística. Es así como en las páginas se cruzan The Beatles y Valentín Elizalde, el desamor y el discurso de género, Homero y Wikipedia y flashbacks de sentimientos que aún se viven. En algunos de los poemas, la palabra escrita no es suficiente. De ahí que se complementan con ilustraciones creadas por la propia Patrícia Lino. Esto, siguiendo la exploración del lenguaje emprendido por poetas de las vanguardias luso-brasileñas como Augusto de Campos, Manoel de Barros, Mário Cesariny y Ana Hatherly, quienes –al igual que Lino– poseen una obra que insinúa que la plenitud poética se consigue cuando lo verbal, lo visual y lo auditivo se conjugan en un solo objeto.
Noé Sandoval. The Daily Aztec. United States. 2019.
Los poemas de Lino van más allá de palabras y lecturas. Lino muestras sus obras literarias con videos y música, lo cual mejora la experiencia para el lector y el espectador. En su recitación, Lino exhibió por primera vez su obra, ANTICORPO, un libro paródico y audiovisual sobre la plática colonial portuguesa. La obra, ANTICORPO, es un collage de video, conteniendo fragmentos de propaganda del gobierno portugués. Durante su recitación, Lino mostró al público la eficacia de usar otros métodos de comunicación para una obra literaria y creativa. “Lo académico y lo creativo van juntos”, dijo Patricia Lino durante su presentación. Lino, siendo poeta y profesora, enfatizó que su trabajo y su creatividad son utilizadas para mostrar y enseñar la capacidad académicas y creativas a estudiantes. Además, recitó otros poemas que se tratan de la experiencias de humanos y sus sentimientos. A su vez, con su poesía portuguesa, Angélica Freitas y Patricia Lino pudieron enseñar a los asistentes del consorcio los contextos sociales y culturales de la vida contemporánea.
A inquietude e os questionamentos que permeiam as obras de Lino, no que diz respeito a estrutura e ao conteúdo, movimentam a ideia de “experiências corais”, apresentada em Objetos verbais não identificados: um ensaio de Flora Süssekind (2013). A partir da observação da crescente presença de “formas corais” na literatura brasileira contemporânea, Süssekind contribui ainda para a reflexa o da literatura contemporânea fora do território brasileiro, permitindo que possamos pensar em Aula de Música a partir de suas características corais, que preveem um tensionamento propositado de géneros, repertório e categorias basilares capaz de questionar tanto a hora histórica, quanto o próprio campo literário. Na experiencia coral de Lino, cruzam-se vozes, elementos na o verbais, sobrepõem-se registros e modos expressivos diversos, criando a instabilidade cada vez mais presente nas produções atuais.
Biana Raupp Mayer & Rita Freitas. Muitas Vozes. Brasil. 2024.
Na variação XVIII, então, um contraponto ao pedido de reinvenção da antiga Lisboa, em um formato de happening, é feito por Lino. Nela, pode-se ler e visualizar o que parece ser uma conversa íntima entre as duas portuguesas. Tem-se a perspectiva de que o poema-variação pode ser lido à medida em que Lino o digita, isto é, o poema pode ser lido ao mesmo tempo em que é criado: temos a impressão de estar observando a tela de um computador, que cede espaço às falas de Lino – o que nos traz, também, a sensação de certa imprevisibilidade e intimidade de um texto verbal que performaticamente é emitido ao mesmo tempo em que se é recebido, tal como acontece em uma conversação em um chat virtual.
Margarida Vale de Gato & Nuno Marques. The Routledge Companion to Ecopoetics. England. 2023.
We propose an oceanic ecopoetics in the work of women poets writing in Portuguese. Our reading focuses on different contributions and examples of this ecopoetics in poems by Brazilian poets Mar Becker, Júlia Hansen, Letícia Novaes (Letrux), Ana Martins Marques, Beatriz RGB and Nina Rizzi and Portuguese poets Sophia de Mello Breyner Andresen, Fiama Hasse Pais Brandão, Patrícia Lino and Inês Francisco Jacob. These works take the Atlantic Ocean both as elemental and as a site of cultural production, unveiling a history of heteropatriarchal projects of colonization and exploitation, and gendered and racialized constructions of bodies and of nature. They also propose alternative epistemologies and interdependent beings with(in) our terraqueous planet by evidencing and exploring the material conditions and linguistic expressions of interspecies encounters through and with the sea.
Paulo Alberto Sales. eLyra. Portugal. 2023.
O gesto repetitivo da escrita em Patrícia Lino é, também, plural: repetem-se, por outros meios, uma escrita do desenho, uma escrita da música, de um filme e, todos emaranhados, marcam uma poesia-mundo, sem limites geográficos definidos. E, segundo Pedro Eiras (2020) – que faz o posfácio de Não é isto um livro –, essas escritas não são simplesmente repetições de elementos de hipotextos diversos, mas reafirmam, por meio da reprogramação, que não há diferença nem separação. Nesse sentido, o trabalho da poeta consiste tanto nas suas palavras como na sua lição gráfica, na ocupação do espaço, no jogo de ênfases – maiúsculas, negritos –, na resposta ao enrugado da página e na fúria contida naquela mão que escreve, invisível mas subjacente. Lino evidencia que a música está no poema, que há quase prosa em “Caleidoscópio”, que rimam os versos de “Soneto velcro” e que a voz diz e canta em “Four of Lino’s sadly unfinished feelings” ou em “Manual do sobredotado”. Tudo é desapropriado porque não há mais um território reconhecível.
Clelio Toffoli Jr.. Metamorfoses. Brasil. 2023.
Lino ironiza o “complexo de superioridade” do português em relação aos naturais das ex-colônias, mesmo que tenha que se forçar a isso subindo no banquinho para se mostrar superior, ao mesmo tempo que escarnece do “complexo de inferioridade” desse mesmo português em relação aos europeus do Norte, numa verdadeira relação de saber quem manda.Note-se o uso do humor cáustico nessa dicotomia, valendo-se da surrealidade do absurdo da situação, situando o texto na exata zona em que a engenhosidade se transforma em delírio, o que valia numa linha antes (superioridade), na seguinte deixa de valer para ser o seu oposto (inferioridade). Trabalho para o inconsciente também, que deve lidar com esses sinais trocados, decifrando o signo.
Paulo Alberto Sales. Diadorim. Brasil. 2023.
Em seu livro audiovisual Anticorpo, ao se apropriar de vídeos com imagens dos discursos de Salazar e, ao mesmo tempo, entrecortando-os com mensagens contestadoras – “o colonizado sustenta o patriarcado” –, Lino trabalha com elementos ready-mades e com sobrecolagens de elementos de diferentes grupos étnicos, com destaque para as mulheres e ao grupo dos LGBTQIAP+. Nesse Anti-corpo multimodal, que questiona sua formação e a funcionalidade de seus “membros”, surgem outras vozes que estão em busca de seus direitos que agem no desmonte das máquinas coloniais por meio de estratégias verbo-sonoro-visuais patéticas e ridicularizadoras.
Franklin Pontes. Boletim 3x22. Universidade de São Paulo. Brasil. 2023.
3X22: O nome do nosso boletim é “Travessias”. Estamos refletindo sobre essa influência de trânsito entre nós, do Brasil, de países africanos de língua oficial portuguesa e de Portugal. Entre Pessoa-Bandeira-Craveirinha, digamos assim. Como esse trânsito literário se faz presente na sua obra poética e em sua vida pessoal/profissional?
P.L: Vivo e movo-me permanentemente entre quatro ou mais culturas. Cresci e vivi em Portugal até aos 23 anos, idade com que imigro para os Estados Unidos, ensino literaturas afro-luso-brasileiras na UCLA, trabalho e colaboro, como investigadora e poeta, com poesia brasileira e portuguesa contemporâneas e colegas e amigas(os) brasileiras(os), portuguesas(es) e afrodescendentes. Tento, também, ler e estudar tudo o que posso sobre a poesia da américa latina hispanofalante. Convivo, além do mais, todos os dias com latino-americanas(os) vindas(os) de todos os lugares da américa central e do sul. Aprendo muito, política e emocionalmente, com tudo isto, o que se reflete nos temas sobre os quais escolho escrever e no modo como o faço.
Karina Frez Cursino e Adriano Carneiro. NEMETYRA. Paraguay. 2023. ÑEMITỸRÃ
Patrícia demonstra o quanto anacrônica e absurda é esta ideia. Os vários itens que integram o Kit são paliativos para cuidar de um paciente em estado de morbidade absoluta. É medicina paliativa para tratar fantasticamente de zumbis. O sentido deve deslizar da figura do “descobridor português” para aqueles que alimentam essa ideia de grandiosidade para o passado colonial português; para aqueles que se banham na ideia de “saudade”, para aqueles que são viúvas salazaristas, fascistas com ou sem carteirinha, racistas de todas as espécies, saudosistas do domínio da escravidão colonial, machistas empertigados e enfadonhos, cultuadores dos white dead men. Cada item do kit de sobrevivência é uma isca para descobrir e identificar fascistas e para tripudiar de suas convicções políticas, artísticas, sociais, religiosas e tudo o mais.
Laura Pilan. Estadão. Brasil. 2023.
Em Barriga ao Alto, poucos de seus traços recuperam a poesia tradicional – há uma sinuosa curva que desvia o texto das expectativas para um poema convencional. Há vestígios e reminiscências de um esqueleto em versos. No entanto, não há uma métrica calculada ou um esquema de rimas definido. Ainda assim, poucos articularam-se tão bem com os artistas de sua época quanto Gertrude Stein: como modo de representação, escolhe algo que pode ser chamado de autenticamente modernista.
PublishNews, Redação. Brasil. 2023.
Barriga ao alto (Macondo, 124 pp, R$ 53,20) chega pela primeira vez ao público brasileiro em um jogo erótico de línguas em constante movimento. Traduzido do inglês pela poeta portuguesa Patrícia Lino, os versos passaram por uma segunda tradução, dessa vez rearranjados na variante brasileira do idioma, implicando novos saltos e reconfigurações. Na obra, Gertrude Stein, uma das artistas mais originais e inventivas escritoras do modernismo norte-americano, apresenta um longo poema de amor, o qual acredita-se ter sido escrito para sua companheira Alice B. Toklas durante a viagem que elas realizaram para Maiorca, na Espanha, em 1915.
Walter Porto. Folha de S. Paulo. Brasil. 2023.
A Macondo publica ainda este mês, pela primeira vez no país, um grande poema erótico de Gertrude Stein, escritora e editora lésbica fundamental para o modernismo americano. "Barriga ao Alto" terá tradução da poeta portuguesa Patrícia Lino, que veio à Flip, em parceria com o editor Otávio Campos.
Alan Mendoza Sosa. Yale Macmillan Center News. United States. 2023.
AMS: — Could you tell our readers who are unfamiliar with expanded poetry what it is?
PL: — On the one hand, the association of the terms “poetry” and “expanded” is paradoxical. Poetry, since its beginnings, has always been expanded and has been linked to the idea of making something both corporally and intermedially. On the other hand, the association between “poetry” and “expanded” contradicts the logocentric and occidental tendency of modern poetry and reminds us, at the same time, of the importance and validity of the plural, unoriginal, and infinite qualities and possibilities of the poem, which, in addition to being verbal, can be visual, audiovisual, three-dimensional, performative, interactive, olfactory, gustative, or cinematographically conceived — as is the case for the poem in comics. In other words, the expanded poem is a composition contrary to the hierarchy of expressions, in which the word traditionally (and colonially) occupies the top, and image, sound or gesture are relegated to, respectively, second, third and fourth places.
Alan Mendoza Sosa. Asymptote Journal. United States. 2023.
In this whirlwind and evocative interview, Asymptote contributor Alan Mendoza Sosa sits down with poet and professor Patrícia Lino to discuss just one of her many innovative approaches to poetry critique and response, the “infraleitura.” Based in expanded poetry, in which the word is not the ultimate form of expression, the “infraleitura” bypasses text to reach a visual, sonic, and tactile dialogue between poetic works as well as between poets. The “infraleitura” is ultimately a work of community; here, we are brought into the dialogue with a call to—in Lino’s words—“use it and transform it endlessly.”
Leonardo von Pfeil Rommel. Via Atlântica, USP. Brasil. 2022.
Os poemas-imagens de Patrícia Lino buscam efetuar uma descolonização do imaginário português e europeu contemporâneos. Os objetos do Kit evocam a memória imperial para, em seguida, a desautorizar, apresentando o seu lado avesso, desumano e obscuro. Conforme Linda Hutcheon (1991, p. 78), a arte pós-moderna “é histórica e política”, sendo intensamente marcada pela desconstrução das grandes narrativas legitimadoras herdadas do passado. Ainda de acordo com Hutcheon (1991, p. 80), “o que a arte e a teoria pós-modernista têm em comum é uma consciência das práticas e instituições sociais que as modelam”. A literatura pós-moderna busca assim, “inquietar-nos, (...) fazer-nos questionar nossos pressupostos” (HUTCHEON, 1991, p. 81) e a forma como entendemos a sociedade em que vivemos.
Paulo Benites e Josemar Macial. Veredas. Brasil. 2022.
Essa virada no entendimento da imagem se dá no cruzamento do eixo central do poema, que amarra suas três partes: a tensão entre sobreviver e morrer. De um lado, a sobrevivência demanda o deslocamento, mas por outro, traz consigo a sombra permanente da morte. O museu, mencionado no final do poema, espaço do arquivamento da memória, é o espaço mesmo do fantasma dos indocumentados. Ao vermos as pantufas sob uma condição estética, lembramos das palavras acertadas do crítico de arte francês Didi-Huberman ao pensar a condição mesma da imagem:“[...]cada coisa a ver, por mais exposta, por mais neutra de aparência que seja, torna-se inelutável quando uma perda a suporta, e desse ponto nos olha, nos concerne, nos persegue (DIDI-HUBERMAN, 2010, p. 33 grifo no original). O fantasma, desse modo, é essa permanência constante, presente na sujeira das pantufas. O fantasma, portanto, ocupa um “entre-lugar” no espaço do real e do irreal. Diante desse quadro, as questões que ainda insistem são: o que há de permanente nas pantufas que se efetivam como uma experiência vivida? Há algo que possa explicar, no plano agora tornado estético, tamanho contrassenso? A resposta possível nos leva imediatamente ao verso final do poema: “Não há estética onde não há Deus”.
Paulo Alberto Sales. Revista do NEPA/UFF. Brasil. 2022.
No caso específico da poesia portuguesa contemporânea, mais especificamente nos processos de criação de Patrícia Lino (1990 -), nota-se o caráter de uma poética intermidiática feita “como se”, na qual são apropriadas diferentes referências intermidiáticas, sobretudo ligadas a uma releitura irônica e paródica por meio de um tom denunciativo dos absurdos presentes nos discursos coloniais portugueses. Em seus diferentes produtos culturais, notam-se combinações de elementos das artes visuais, da música eletrônica, da performance, de filmagens e de diferentes intertextos que têm no vasto campo lusófono o alvo de sua ironia. Textos-instalações, livros-audiovisuais, poemas-performances adaptados ao formato cinematográfico, colagens e apropriações de textualidades que agem no desmonte de mentalidades arraigadas em discursos de teor homofóbico, misógino, patriarcalista, racista e xenófobo.
Paulo Alberto Sales. Entrelaces. Brasil. 2022.
A produção de Patrícia Lino, embora ainda muito recente, tem despertado a atenção da crítica em diversos aspectos, seja pela transdiciplinaridade típica de suas composições, seja pelas transliterações presentes em seus escritos que tendem a expandir os campos de criação poética aos do universo das tecnologias digitais. Seus trabalhos dialogam com vertentes norte-americanas da chamada “escrita não-criativa” [Uncreative writing: managing language in the digital age], de Kenneth Goldsmith (2011) e do “gênio não original” [Unoriginal genius: poetry by other means in the new century], de Marjorie Perloff (2013), ao destacar como as artes e a literatura, na era digital, têm se servido cada vez mais de ferramentas e mecanismos disponibilizados por computadores, que transferem conteúdos de arquivo de um suporte para outro. Essas práticas comuns da cibercultura, tais como as reutilizações e os reaproveitamentos, proliferam-se em sua poética por meio de escritas transmediais que, por sua vez, representam o espírito da sociedade pós-industrial
Ícaro Carvalho e Bianca Mayer. Entrelaces. Brasil. 2022.
No livro Antilógica (2018), Lino explica que a palavra labirinto teria se originado do grego labrys (λάβρυς), que, por sua vez, significaria machado de dois gumes . Nesse sentido, a retomada deste conceito, o labrys, pode tanto beneficiar interpretações acerca da dupla lâmina de um texto que se move entre o visual e o verbal, quanto acerca do caráter lúdico e bifurcado de um texto que, por isso, apresenta sempre múltiplos sentidos.
Bianca Mayer. ADobra. Brasil. 2022.
Se o poema “Aula de música” reconta o pouco conhecido mito grego de Lino, o HQ Aula de música faz um movimento de recontagem tanto do poema que a si próprio deu origem quanto do mito que originou o poema. Ao que parece, o HQ Aula de Música opera ora no furto de uma poética já validada pela lógica colonial das universidades do hemisfério norte, ora no furto de um gênero textual ainda muito pouco discutido no contexto dos estudos literários: cabe, pois, ao(à) leitor(a) bem transitar entre o Grego Clássico e a Pop Art.
Ewerton Martins Ribeiro. UFMG. Brasil. 2022.
Nesta quarta-feira, dia 31, às 10h, a poeta e pesquisadora portuguesa Patrícia Lino, que é professora de literaturas e cinema luso-brasileiros na Universidade da Califórnia (Ucla), nos Estados Unidos, vai ministrar palestra na UFMG sobre as possibilidades da escrita de poesia [...]. Patrícia resume sua intervenção, em que apresentará e debaterá uma série de poemas de sua própria lavra: “Vou dividir a apresentação em sessões: começo por ler poemas compostos apenas por palavras, ou seja, poemas 'tradicionais', e depois vou falar de poema performático, ‘teste e colagem’, o poema-escultura ou tridimensional, e aí vou mostrando projetos – uns mais curtos, outros mais longos – de livros que já fiz ou estou fazendo". [...] A palestra Aonde vai este pulso chucro: algumas notas sobre o fazer do poema será ministrada no auditório 2001 da Faculdade de Letras, no campus Pampulha, e é aberta ao público.
Cecília Itaborahy. Tribuna de Minas. Brasil. 2022.
“Aula de música” é a primeira publicação impressa do coletivo editorial Capiranhas do Parahybuna. O novo livro de Patrícia Lino é um poema em quadrinhos, que faz uma releitura da relação entre Orfeu e seu irmão Lino. É, também, a primeira vez que a poeta se mostra como quadrinista, apesar de em “O kit de sobrevivência do descobridor português no mundo anticolonial” já ter apresentado seus desenhos compondo poemas.
Alícia Gaspar. BUALA. Portugal. 2022.
AG: Em que projetos está envolvida atualmente?
PL: Terminei há pouco tempo um livro trilingue de poemas em quadrinhos (banda desenhada), Aula de Música, que será publicado em agosto no Brasil pelas Capiranhas do Parahybuna.
A segunda edição brasileira d’O Kit de Sobrevivência será lançada igualmente em agosto pelas Edições Macondo e incluirá cinco novos objetos. A Espingarda de Cânone Cerrado e o Colonialismo do Anticolonialismo são dois deles.
Estou prestes a fechar um ensaio sobre o desenvolvimento intermedial da poesia brasileira do século XX que propõe, ao mesmo tempo, a infraleitura, um novo tipo de ensaio expandido concebido a partir da leitura anárquica, corporal e criativa de todas as dimensões do poema (verbal, visual, performática ou sonora) e recupera certos trabalhos ignorados pela crítica ao longo das últimas décadas. Entre eles e acima de tudo, a produção interdisciplinar ou híbrida das mulheres — Pagu, Julieta Barbara ou a ainda viva Neide de Sá.
Alma Miranda. Anuario de Letras Modernas. UNAM. México. 2022.
Ahora bien, aunque este libro produzca risas, no es una obra fácil, dado que se funda en la parodia, por lo que sus mejores receptores son quienes pueden reconocer el peso de lo que se está desacralizando en el Kit, además de quien pueda comprender el diálogo que, desde la irreverencia, la distancia y la posesión de diversos lenguajes, establece con monumentos literarios como Mensagem de Pessoa. En otras palabras, la comprensión del Kit implicaría que se conoce a fondo la cultura portuguesa y sus discursos.
Manual ficticio de artefactos imaginarios, catálogo ilustrado de objetos inexistentes, esta obra de Patrícia Lino, con su retórica verbo-visual, se ubica como una obra rebelde, no sólo ante la práctica ausencia de debate en torno a estos aspectos en Portugal, sino también frente a la beligerancia del discurso de la ultraderecha en su país.
Mónica González García. Itinerários, n. 53. Brasil. 2022.
Patrícia Lino é uma artista nascida em Portugal em 1990 e também professora de literatura e cinema luso-brasileiros no Departamento de Espanhol e Português da Universidade da Califórnia, em Los Angeles. Seu trabalho criativo mistura gêneros literários, registros artísticos, suportes mediáticos e novas tecnologias para oferecer artefatos extremamente lúdicos e críticos, marcados por olhares anticoloniais, antirracistas e feministas. No final de 2020, em plena pandemia, Patrícia publicou no Brasil e em Portugal O kit de sobrevivência do descobridor português no mundo anticolonial, obra interativa que excede a forma de livro que a contém e que convida interlocutoras e interlocutores a rir-se das fracas estratégias dos sujeitos imperiais que ainda tentam justificar essa versão da História que narra o colonialismo como um projeto civilizador. Num mundo em que a diversificação de vozes há tempos vem contribuindo para visibilizar os horrores que acompanharam a expansão europeia pelo globo (já o dizia Aimé Césaire, em 1950, no seu “Discurso sobre o colonialismo”), a de Patrícia Lino destaca-se pelo que Djamila Ribeiro chama de “lugar da fala”, isto é, uma voz de mulher portuguesa que se alça para questionar os paradoxos dos discursos fundacionais do seu país. Aliás, embora sua crítica tenha como alvo as nostalgias imperiais portuguesas, a obra bem pode servir como terapia anticolonial para todas as sujeitas e sujeitos coloniais do presente, parte das quais ainda não compreendemos, como, por exemplo, algumas autoridades da Espanha se orgulham do 12 de outubro, data ineludivelmente dolorosa para todos os povos originários das Américas.
Anelise de Freitas. Itinerários, n. 53. Brasil. 2022.
O livro, em 2021, foi escolhido como um dos 54 semifinalistas entre os 1.835 concorrentes do Pré(ê)mio Oceanos e consta como “poesia brasileira”. Essa escolha, tanto como semifinalista quanto figurar entre a poesia brasileira, não parece ser arbitrária. Lino possui uma vinculação com a literatura do Brasil e com poetas contemporâneos que estão em intensa produção na atualidade. Não só como leitora dessa literatura, mas também academicamente, uma vez que é professora adjunta de literaturas e cinema luso-brasileiros na UCLA, e a paródia e o anticolonialismo formam parte de sua inserção como pesquisadora; Lino atua também no conselho editorial da Edições Macondo, que publicou seu livro no Brasil, e coedita a revista brasileira de poesia e crítica Escamandro. Além disso, nesse livro, utiliza-se de um tom poético que, embora exprima uma construção pessoal de sua produção literária, também converge intimamente para o poema-piada e o antilirismo brasileiro. Esse último fato, por conseguinte, corrompe uma certa poesia portuguesa difundida no mundo lusófono, que se baseia no lirismo. Apesar de também haver na literatura medieval portuguesa o tom satírico para reprochar hábitos e costumes, a poesia de Lino, principalmente neste livro, dialoga mais com o antilirismo brasileiro e com o poema-objeto do Concretismo.
Paulo Alberto Sales. eLyra, n. 18. Portugal. 2022.
As dicções cômicas e ridicularizadoras se valem do humor como estratégia dessacralizadora das banalidades do mal colonizador. Nota-se, por meio da desapropriação dos sentidos “originais” presente nos códigos transcontextualizados (Hutcheon 1985) que marcam a diferença no coração da semelhança, tal como propõe a paródia, o exercício de investigação arqueológica e, ao mesmo tempo, de retratação satírica a respeito de um consenso nacional arraigado. Em todo o Kit, percebe-se, na proposição de poemas-piadas interdisciplinares, o humor ácido que age no desmonte de mentalidades por meio da tomada de uma posição literária diferente das já realizadas pelos grandes nomes incontornáveis da poesia portuguesa (Camões, Pessoa, Carlos de Oliveira, Jorge de Sena... e lista é exaustiva).
Sara Campino. eLyra, n. 18. Portugal. 2022.
Os objetos criados por Patrícia Lino exploram uma estética kitsch, que também está patente noutras opções da publicação como o “título de best-seller anacrónico” (Flores 2020: 182) e a “estrutura de um livro de autoajuda” (Lino 2021:239). Por um lado, nota-se a vontade de atribuir requinte a estes bens de consumo banais através da utilização de elementos decorativos pomposos, como acontece com o “Coitadinho” (2020: 134-137), à semelhança da estratégia publicitária utilizada pela marca “Calvert Reserve” quando persiste na bandeja prateada. Por outro lado, é necessário também convocar uma ideia de tradição ilustre através da ornamentação com heráldica nacionalista e retratos antigos de figuras históricas, como acontece com as pastilhas “DescobriMENTOS” (2020: 24-27) e as velas aromáticas “Caravelas” (2020: 60-63). Esta reconstituição de um tempo passado indeterminado que materializa um imaginário saudosista é reforçado pela im-pressão das imagens a preto e branco, o que contrasta com a perceção da ausência de cor nas fotografias trabalhadas por Brecht, Heartfield e Aragão, uma vez que nestes últimos exemplos de montagem não está em causa a autenticidade histórica dos documentos recortados nos arquivos da imprensa.
Miguel-Manso. COLÓQUIO/Letras, n. 209. Portugal. 2022.
Perante estas forças exclusivas, categóricas, homogeneizantes e hegemónicas, Patrícia escolhe contrapor-se com um discurso e uma acção irónicos, inclusivos e empáticos. Fá-lo em desfavor até da sua própria estabilização identitária e lugar no mundo: a autora prefere diluir-se entre as várias possibilidades, contribuindo para confundir quem busque situá-la. Não podemos deixar de sorrir ao vê-la figurar entre as autoras da recente antologia «Poetas Contemporâneas do Brasil» (poesia.org, 2021). Há ainda a questão de género e sexualidade que atravessa esta colectânea em muitos textos e cuja voltagem atinge especial potência em poemas como «Soninha» (86) e «Soneto Velcro» (88): «A quantas de nós, fressureiras / se cortou a garganta, os lábios, os dedos, a língua / as preces».
Luciana Salles. Geografias Literárias de Língua Portuguesa no Século XXI. Itália. 2021.
Indo ao encontro de Bachelard na reflexão sobre o espaço interno e o espaço externo, e reverberando os escritos de Edward Said, o riso provocado por Patrícia Lino agrega potência difusora à denúncia sobre o tratamento dispensado pelo olhar ocidental ao oriente ficcionalizado em fabuloso ou inimigo, traduzindo em humor uma discussão ainda muito presa ao academicismo.
Luiz Fernando Queiroz Melques. Revista Desassossego. Brasil. 2021.
Pela irreverência crítica, pelo necessário chacoalhão que não se furta de encarar questões polêmicas ou apontar construções falaciosas do cotidiano e por todo o demais exposto até aqui, ressalta-se a relevância da publicação de Lino. Além disso, recomenda-se que o livro seja uma porta de acesso às demais produções da autora, que tem criado espaços de reflexão a partir de diferentes formatos. Por último, gostaríamos ainda de valorizar a iniciativa da editora de tornar obras de novos poetas portugueses acessíveis ao público brasileiro.
Pedro Martins. Folha de S. Paulo. Brasil. 2021.
[É um livro que] expõe, através do riso, as inconsistências do nacionalismo, além de repensar as funções do próprio riso, que pode ser tão ou mais eficaz e violento do que o tom respeitável de certos debates', diz Lino. Com seu 'Kit', lançado no Brasil pela editora Macondo, ela chegou à semifinal do prêmio Oceanos, que seleciona as melhores obras do ano escritas em português.
Rodolfo Mata. Revista CULT. Brasil. 2021.
Para ler O kit de sobrevivência do descobridor português no mundo anticolonial, de Patrícia Lino, você não precisa de kit nenhum. Também não precisa ser português, nem estar numa situação de perigo iminente. O que você precisa é estar disposto a completar uns quebra-cabeças em que participam alguns fios da história colonial portuguesa, que se parecem muito com a história de outros países colonizadores, e uma sensibilidade disposta a embarcar (não numa caravela, claro) na aventura (sem pretensões de descobridor) de rir. Isso tudo sabendo que quando se ri diante de uma ironia ou uma paródia, doem certas partes do corpo, talvez o coração ou o fígado, mas, se ainda acreditamos em Descartes, talvez a glândula pineal, onde o filósofo francês dizia que se instalava a alma e se formavam nossos pensamentos. Ou seja, o que é quase indispensável é pensar, compreender que os brinquedos que Patrícia Lino nos apresenta no seu kit têm algumas pontas afiadas. E digo quase indispensável, porque às vezes a força desses objetos criados por ela nos atinge sem dar tempo para o pensamento se formar e nos marca com o carimbo mental da imagem.
Miguel-Manso. Revista El Malpensante. Colombia. 2021.
Lo que primero salta a la vista en los poemas-en-página de Lino es el estruendo multicolor con que estos se despliegan en el cielo de la inteligencia. El nombre que tiene el primer poema es representativo del todo: «Caleidoscopio» (9). En este texto en particular se enumeran hechos aparentemente aleatorios, disímiles entre sí, y que, informando poco, nos proponen la riqueza temática del libre fluir de las ideas. Tal vez el dique de un poema las sostenga un poco, para que se cumpla el gusto de la lectura, que antecede el del olvido. Se enumeran datos como el número de habitantes de Singapur; el color azul de unos cordones sobre un tapete; una traducción «pésima» de Aristóteles; caminar hacia atrás (¿?) en la carretera panamericana; «Las sacudidas homéricas del autobús (…) el cráneo danzarín de las gallinas»; el jazz que se oye con la barriga al cielo, los fonemas de la lengua portuguesa; Schrödinger y el gato; el tratado de botánica de Teofrasto; mensajes escritos en papelitos; canciones pop; el poema, a fin de cuentas, como máquina aglutinante, con sus «procesos de fragmentación».
Robert Patrick Newcomb. Journal of Lusophone Studies. United States. 2021.
Portuguese and Portugal-literate readers can enjoy the Kit, with its silly items, pithy portmanteaus, and sight gags, for its ironic humor alone. That several of the items described, including my personal favorite, the “Sebastiana,” a fog machine used to conjure the still-missing Dom Sebastião, would be difficult if not impossible to fit into a reasonably-sized kit adds to the book’s comedic value. But Lino is doing something more than telling jokes: she is using humor as a vehicle to intervene in Portugal’s ongoing memory battles, which in Portugal as in the U.S. have centered of late on monuments and museums, such as Lisbon’s proposed Museu dos Descobrimentos. Lino has represented the latter in an art piece, a “poema miniatura” entitled “Museu dos Descobrimentos: Portugal 2019,” as a building composed of three stacked caskets—a visual depiction of colonialism’s human cost. Lino links what, per Nietzsche, we might term the “monumental” narrative of Portuguese history and the nostalgia for empire to the anxiety of aggrieved, mainly white, male Portuguese “navigators” in the face of their perceived marginalization in the post-colonial, multicultural present. A number of objects included in the Kit seek to alleviate their anxiety.
Gustavo Reis Louro. eLyra. Portugal. 2021.
Em conversa recente que tive com a autora (via redes sociais, com a devida distância física que os tempos atuais pedem), ela me confidenciou como achava curioso que seu Kit venha sendo tratado como poesia, já que ela mesma não o havia concebido dessa forma. Eu repliquei que talvez pelo fato de ela ser poeta, e das grandes, tudo que ela publique no terreno da experimentação artística venha a ser compreendido assim. Uma espécie de comodidade ou mesmo preguiça crítica, uma nova prova de que “os contemporâneos não sabem ler”, como formulou Augusto de Campos. Há outras hipóteses a se figurar, sem dúvida, mas é igualmente verdadeiro que há um certo DNA dadaísta no Kit, na medida em que elenca objets trouvés poéticos, a partir dos ícones do Império Português, já tão poetizados.
Ricardo Vasconcelos. Luso-Brazilian Review. United States. 2021.
From the beginning it is clear that Lino’s book relies heavily on a visual schema to interpret Barros’s writings, which defines the structure of her book. Of course, it’s worth noting that Patrícia Lino is a visual artist in her own right, which inevitably ends up defining her creative approach. Her book index, for example, is laid out in a circular structure with a counterclockwise articulation of the book sections, defining the motion of the argumentation. The first movement, addressing death and earth, brings human bodies—the poet, the reader—closer to the ground, makes them try that humbling experience of touching the earth. The second movement shows a motion of carving through the soil in search for a primal cry and our possible origins, existential and discursive. The third movement is dedicated to the characterization of the poesia kínica in the classical period and as conceived in Manoel de Barros’s language. A fourth motion, not actually called movement, is a concluding section dedicated to what Lino calls “the second birth,” one that is materialized in fusions with nature and that is also focused on the symbol of the tree, namely linked to Barros’s poetic character of Bernardo da Mata.
Pedro Eiras. RCL — Revista de Comunicação e Linguagens. Portugal. 2021.
Para descrever este Kit, importa apresentar, em algumas linhas, a própria autora: Patrícia Lino é uma escritora portuguesa, uma especialista em literatura brasileira, professora na University of California Los Angeles. A esta pluralidade de lugares, acresce um verdadeiro “ofício múltiplo” (cf. Frias, Eiras e Martelo, org. 2017): Patrícia Lino é poetisa, artista plástica, performer, criadora de ilustrações, de vídeos, de um álbum de poesia “mixada”. Se insisto neste carácter vário e experimental da criação da autora, não é simplesmente como pano de fundo para descrever o Kit, mas porque existe aqui uma forte coerência: a pluralidade de experiências — lugares, linguagens, formas — gera uma cosmovisão aberta, atenta à diferença, em tudo distinta da cosmovisão fechada do suposto “descobridor português”.
Ana Cristina Joaquim. Palavra Comum. Galiza. 2021.
Com o seu gesto de publicação do kit, Patrícia Lino constata, ao mesmo tempo que atesta, que os “objetos imaginários” são tão históricos quanto “os objetos históricos”. Isso não significa que não haja diferenças entre o discurso literário e o discurso histórico (e os meios de que cada um dos discursos dispõe para levar adiante as disputas políticas, sociais, etc.). Isso significa que seus dois tipos de objetos, por assim dizer, passam a atravessar os cotidianos português e brasileiro, na exata medida em que disputam uma leitura do fato histórico em questão. Ambos ocupam o tempo presente. Um, por entender o presente como única temporalidade em que se faz possível qualquer ação, resposta ou indagação. Outro, por nunca ter deixado de ocupar o tempo presente, nas sucessivas “renovações” que o permitiram “se manter como tal”, tendo-se em vista a predominância da visão colonialista e todas as consequências no que diz respeito às determinações identitárias ao longo dos séculos.
Laura Assis. ADobra. Brasil. 2021.
Falar da obra de Patrícia Lino é se deparar sempre com um dilema: qual fio puxar? São muitos os potenciais caminhos dentro da produção dessa autora portuguesa, e a maior parte das suas obras trazem nuances e ramificações que esbarram nas artes plásticas, na estética, na história, na filosofia, no lirismo e na música.
Meu primeiro contato com a produção artística de Patrícia me deu a impressão de vislumbrar um mundo em toda a sua complexidade, engrenagens, possibilidades; entre poemas líricos (que estão em Não é isto um livro?, publicado pelas Edições Vestígios), vídeos, poesia visual, poesia mixada (no álbum I Who Cannot Sing, lançado pela Gralha Edições), performance, intervenção, entre outras para as quais ainda não me ocorre uma classificação, que sequer é necessária.
Guilherme Gontijo Flores. Revista do Centro de Estudos Portugueses, v. 40, n. 64. UFMG. Brasil. 2021.
Patrícia Lino é a estreante mais veterana que já vi. E isso ninguém discute. Nascida em 1990 e morando há alguns anos nos Estados Unidos, onde é professora na Universidade da Califórnia em Los Angeles, Lino produziu um verdadeiro tour de force em prazo exíguo, e digo com todas as palavras o que produziu em coisa de dozes meses apenas: fundou a revista Virada — literatura e crítica em dezembro de 2019, em parceria com Miguel Monteiro (este sediado em Coimbra), com uma proposta editorial que cruza ensaio e poesia experimental numa lusofonia ampla, raríssima de cá ou de lá do Atlântico, ou seja, editoração de risco e ação num mesmo gesto. Nestes noves meses incompletos de 2020, ano do caos e da melancolia, lançou Não é isto um livro pela Ediciones Vestigio, na Colômbia, em edição bilíngue, português-espanhol, com um conjunto de poemas em verso, prosa e experimento visual, onde o leitor pode encontrar pancadas de humor escancarado, lirismo enviesado, rasura, ironia etc., numa vertigem de técnicas e efeitos que é de poucos. Também terminou o curta-metragem Vibrant Hands. Como se não bastasse, conseguiu ainda lançar em site o álbum de mixagens I who cannot sing, em que manipula as vozes de outros poetas, vivos e mortos, além da própria voz e de instrumentos digitais, para produzir um álbum musical e poemas; no mínimo ironicamente, esse álbum já saiu poucos meses depois na forma áfona de um livro, pela Gralha Edições, também brasileira. Isso tudo, para não falar de Manoel de Barros e a poesia cínica: o círculo dos três movimentos com vista ao homem-árvore, publicado em meados de 2019 pela Relicário Edições; nem do livro audiovisual Anticorpo. Uma paródia do império risível, programado para sair Garupa Edições, entre 2020/21. É de fato um dínamo, como a apelidou André Capilé pelas redes sociais.
Isaac Giménez. Mester, v. 49. United States. 2021.
Most of Lino’s works confront readers/spectators (as well as reviewers) with their own prejudices. Not only does Anticorpo defy the idea of a book, and by extension literature, but more importantly it requires an engagement that goes beyond the logos and the solemnity associated with it. Traditionally, parody has been considered an inferior genre, a mere inversion of the original codes whose main aim is to critically tackle an issue through the lens of humor. In this sense, Lino’s playful elaboration does fulfill its purpose: to provoke an unpleasant and corrosive laughter that’s both infuriating and relatable. Perhaps the personal, ludic appropriation and repurposing of archival images is not new in the Lusophone arts, but it is definitely rare within the Portuguese literary field.
Laura Assis. Revista CULT. Brasil. 2020.
E isso porque um dos maiores acertos de I Who Cannot Sing é ter atingido em suas peças de poesia mixada uma organicidade que confere a elas uma existência muito própria. Se originam sim, claro, do poema e do mix, respectivamente, mas essa dupla natureza cria uma terceira, que não obedece às mesmas leis. Insistir num olhar classificador e metodológico talvez seria, então, mais ou menos como ir para outro planeta e querer se comportar da mesma forma ao se deparar com outra atmosfera, outra gravidade.
André Capilé. escamandro. Brasil. 2020.
hoje, em chaveamento parecido à adília em alguns aspectos, é bem que possível nos encontremos com patrícia lino. poeta forte nas tramas da multilinguagem, em plataformas diversas, que tem operado com muita inteligência, e humor, um projeto de calcinação dos modelos conservadores de ler a história portuguesa, a dos livros e a dos hábitos, por meio de, ai que me repito tanto, não me repila, sátiras & paródias. ela, patrícia, é professora de literatura e cinema luso-brasileiros na UCLA, investigadora do UCLA Latin American Institute e do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa, trabalhando, sobretudo, com poesia contemporânea e interdisciplinaridade. em todos os campos em que atua como pensamento, patrícia avança por linhas contracoloniais, desde dentro, nos informando duma outra maneira de existir portuguesa, e também do mundo, nosso mundo possível. ela, poeta em trânsito permanente, consegue atravessar sua criação a revés dos documentos oficiais, dinamizando com argúcia de rebel aquilo que é vedado dizer, entre outros pontos, mesmo no circuito poético do campo editorial português.
Catarina Real. Arte Capital. Interview. Portugal. 2020.
Depois de cinco anos e um doutoramento focado na poesia brasileira do século XX (e XXI também) e muitas aulas leccionadas - desde o português à literatura mexicana - partiu para Los Angeles, onde lecciona, desde Setembro de 2019, literatura, cinema e cultura brasileira e portuguesa. Patrícia tem uma voz madura, e um tom pausado, como quem ensina sempre que fala. Falámos do seu percurso, do seu trabalho, das suas obsessões, da interdisciplinaridade e do afecto que tem ao trabalho editorial de Nuno Moura, com olhos atentos e sem conservadorismo e com quem irá publicar, via Douda Correria, o seu próximo livro de ficção em Portugal: O Kit de Sobrevivência do Descobridor Português no Mundo Anticolonial.
Brenno Kenji Kaneyasu. Revista Pessoa. Brasil. 2020.
A poesia de Manoel ressurge, então, do estudo de Patrícia, com um afiado fio crítico social: de inventiva e lúdica, passa a anárquica, rebelde, irreverente, inovadora. Sua origem impossível no início dos tempos encontra sua contraparte possível no terreno social e quotidiano: da infância da humanidade à infância do homem, do olhar primitivo pré-linguístico ao olhar infantil pré-linguagem e seus análogos sociais.
José Pinto. escamandro. Brasil. 2020.
Nesse diálogo com os poemas e as leituras, a poeta-tradutora parece repartir a sua atenção sobretudo entre a escuta e a construção dos novos objetos, onde o tom de voz, a projeção vocal e a interpretação dxs poetas influem nas composições musicais. Os arranjos, por sua vez, resultam de colagens de sons retirados de websites de domínio público, programas profissionais de música e mixagem. Editados mais tarde ou não, a Patrícia vai articulando estes sons, beats e acordes com sons corporais ou gravados na rua e outros dos seus instrumentos, como o MIDI, o xilofone, as maracas ou o baixo.
Thadeu C. Santos. Revista de Estudos Portugueses. Brasil. 2020.
Em REVOLUTION (2019b, 2’16”), Patrícia Lino se aproxima do concretismo ao abrir diálogo direto com uma peça visual de Augusto de Campos, a “enigmagem” “Pentahexagrama para John Cage”, uma homenagem ao silêncio trabalhado pelo antiprocedimento fundamental do músico norteamericano. Campos centraliza a figura de uma pauta musical comum subvertida através da pontuação das notas musicais nos espaços brancos, quando habitualmente é feita nas linhas pretas. De que se trataria essa revolução? Lino reproduz com cores a imagem de Campos e uma nota de piano soa a cada mudança de coloração. O silêncio é quebrado por um acompanhamento sonoro monótono e vagaroso. No entanto, a palavra “revolution” é processada em diferentes estados de animação e, aparentemente, desacompanha a instrução sonora, promovendo um contraste em direção a uma vitalidade primaveril. A palavra “revolution”, pois, parece ganhar vida própria, desobedecendo com seus movimentos a ode ao silêncio e refazendo a perspectiva afixada anteriormente, tal qual uma anedota videográfica, que a imagem de Campos encapsulara.
Mary Anne Warken. Qorpus. Interview. Brasil. 2020.
— Conte um pouco sobre a sua relação com o trabalho de tradução. Como ocorre a dinâmica entre seu trabalho acadêmico na UCLA e seus trabalhos autorais e de tradução. Como esses talentos se relacionam? Você é autora antes de ser tradutora? Fale sobre seus mais recentes trabalhos autorais.
— Traduzo, na prática ou mentalmente, quase todos os dias. Do espanhol e inglês ao português, sobretudo. Poesia, mais do que qualquer outra coisa. De resto, o exercício de tradução inclui, para mim e ao mesmo tempo, vários processos. Não diz apenas respeito à tradução de um idioma a outro, mas de uma ou mais linguagens a outra(s). A ilustração, a musicalização ou a representação audiovisual são exercícios de tradução. Como ilustrar este verso? Como musicar esta estrofe? Como representar, através da imagem, do som e do movimento, aquela passagem? Ou, num raciocínio inverso, como escrever sobre um objeto visual, musical, audiovisual ou performático? O fazer ou a análise da poesia, pela natureza interdisciplinar da poesia (que se compõe formalmente de palavras, imagens, sons ou do corpo), leva muitas vezes, mais do que o fazer ou a análise de qualquer outro género literário, a perguntas como estas. Poder-se-ia dizer que trabalhar com poesia, sob o ponto de vista de quem a faz, pensa ou ensina, é trabalhar com tradução.
Camila Assad. Revista CULT. Brasil. 2020.
Patrícia Lino nasceu em Portugal em 1990. Apesar da pouca idade tem um currículo vasto, coleciona ocupações e endereços intercontinentais. É poeta, artista visual e professora de literatura e cinema luso-brasileiros na UCLA (University of California, Los Angeles). É doutora em literatura brasileira e autora de Antilógica (2018) e Manoel de Barros e A poesia cínica (2019). Dirigiu Vibrant hands (EUA, 2019) e Anticorpo – uma paródia do império risível (EUA, 2019; Brasil, 2020). Comecei a acompanhar sua produção e percebi que ela fazia muito mais do que simplesmente “escrever umas coisinhas”. Patrícia se abre para uma investigação profunda da poesia contemporânea, pesquisa com afinco a cultura visual e audiovisual e não demorou muito para eu ter certeza de que estava diante de um dos maiores nomes da literatura lusófona. Patrícia não tem medo de experimentar, e isso talvez seja o ingrediente principal pra todo jovem poeta.
Pedro Eiras. Catálogo de Poesia UNAM. México. 2019.
A Patrícia escreve, desenha, compõe, debate, provoca – inventa linguagens que não existiam.
Por isso, nestes poemas, há Homero e o Pão de Açúcar, Diógenes e os Smiths, Dante e Malevich, muito samba, pantufas terríveis, um apetite de kiwis, a denúncia das Taprobanas. E amor, humor, a infância reencontrada.
A Patrícia é – como dizê-lo melhor? – a Patrícia.
Álvaro Cortés. Catálogo de Poesia UNAM. México. 2019.
En los versos de Lino se deconstruye la cultura pop, el conocimiento académico, las emociones y el lenguaje, para dar forma a poemas de una engañosa sencillez y evidente necesidad de representar el cúmulo de ideas que nacen de su sensibilidad artística. Es así como en las páginas se cruzan The Beatles y Valentín Elizalde, el desamor y el discurso de género, Homero y Wikipedia y flashbacks de sentimientos que aún se viven. En algunos de los poemas, la palabra escrita no es suficiente. De ahí que se complementan con ilustraciones creadas por la propia Patrícia Lino. Esto, siguiendo la exploración del lenguaje emprendido por poetas de las vanguardias luso-brasileñas como Augusto de Campos, Manoel de Barros, Mário Cesariny y Ana Hatherly, quienes –al igual que Lino– poseen una obra que insinúa que la plenitud poética se consigue cuando lo verbal, lo visual y lo auditivo se conjugan en un solo objeto.
Noé Sandoval. The Daily Aztec. United States. 2019.
Los poemas de Lino van más allá de palabras y lecturas. Lino muestras sus obras literarias con videos y música, lo cual mejora la experiencia para el lector y el espectador. En su recitación, Lino exhibió por primera vez su obra, ANTICORPO, un libro paródico y audiovisual sobre la plática colonial portuguesa. La obra, ANTICORPO, es un collage de video, conteniendo fragmentos de propaganda del gobierno portugués. Durante su recitación, Lino mostró al público la eficacia de usar otros métodos de comunicación para una obra literaria y creativa. “Lo académico y lo creativo van juntos”, dijo Patricia Lino durante su presentación. Lino, siendo poeta y profesora, enfatizó que su trabajo y su creatividad son utilizadas para mostrar y enseñar la capacidad académicas y creativas a estudiantes. Además, recitó otros poemas que se tratan de la experiencias de humanos y sus sentimientos. A su vez, con su poesía portuguesa, Angélica Freitas y Patricia Lino pudieron enseñar a los asistentes del consorcio los contextos sociales y culturales de la vida contemporánea.