PÔR A LÍNGUA DE FORA é uma seleção de poemas publicados
em revistas literárias ou antologias de vários países entre 2014 e 2019. Todos os poemas foram lidos ou performados nos Estados Unidos, no México, no Brasil e em Portugal. PÔR A LÍNGUA DE FORA is a selection of published poems in literary magazines or anthologies from various countries. All poems were presented or performed in the US, Mexico, Brazil, and Portugal. |
CALEIDOSCÓPIO
A suspensão coloidal das nuvens no trânsito. O número de habitantes de Singapura (新加坡共和国, 5 000 000, [114.º]). Estar de joelhos onde acabem as tuas costas. A cor azul dos teus atacadores no tapete da entrada. Uma péssima tradução de Aristóteles. Andar para trás na Pan-American Highway. Como não há semelhanças entre um vinil dos Smiths e um moinho de vento? São ambos processos de fragmentação: please please please let me get what I want Os solavancos homéricos do autocarro nas manhãs onde não beijo ninguém. O crânio dançante das galinhas. Saber que o jazz se ouve de barriga para o ar. O rapaz que me disse aos 6 que eu era uma varanda ensinou-me o que era uma metáfora. A + B = C. Saber quantos fonemas tem a língua portuguesa. Expulsar o gato. Ficar a sós com Schrödinger na caixa. "Só plantará um jardim de cabeça para baixo quem não ler a Historia Plantarum". Naná quem disse. Uma ferida é a interrupção da continuidade do tecido corpóreo. "Nonsense Botany" foi o que escrevi num bilhetinho para Naná. Naná não respondeu. São 31. Se Sócrates sorriu para a morte de dedo em riste, por que não haveria eu de sorrir-te na fila do metro? A primeira nódoa na camisa foi a tua boca. A indecisão do pássaro em afogar-se no charco ou o primeiro salto dos jogos olímpicos. Pintar um quadro numa praia de nudistas. O movimento centrífugo que os mamíferos desenham antes de deitar-se. Aprender que o amor não é um rondó: três couplets, quatro ritornellos, um coração só, A-B-A-C-A-D-A mão no seu lugar: aos ombros te carrego pelos lábios. A tosse pneumática a 15 de novembro. As unhas raspadas. O suicídio do hamster Tobias a 5 de janeiro. Cf. Werther. A minha festa de aniversário de 1999. A tua saia. Tu. O último massacre do Sudeste Asiático, quão caro está o tabaco, o preço da papaia, uma nação nas meias. Ser perpendicular à porta de tua casa. A vermelha, que rodopiava. O lavatório, o queixo. Dois olhos no espelho: girl, girl that I see,/ is there a literary-est mirror than me? Brazil (Modo de Usar & Co., 2014). Portugal (Enfermaria 6, 2013). Spain (Intervalo, 2013). |
NUNCA PASSÁMOS ALÉM DE TAPROBANA Pensei que não vivesse mais. Quando o vizinho canta, eu acendo um cigarro e penso que risquei — propositadamente — o teu vinil com as chaves de casa. No more imagine me and you, you and I. Anos sessenta, The Turtles, já lá vão. Perguntas se passou, digo-te que não. Nunca passa. A thousand years, seis meses, nunca passa. Pensei realmente que não vivesse mais, quase morri; sem samba, estatueta ou benesses. Perdi a bicicleta, a cabeça, o telefone, aquele aguçado e pequeno pulso tremente. Jurei por isso que nunca mais te via e ri com fervor dos que riem com fervor e os que riem com fervor dos que riem com fervor riram-se de mim. Soluçava consecutivamente quando disse a mim mesma esta verdade tríplice e absoluta: you have no woman, no dog, nor country. Pouso as mãos frias sobre os olhos. Viver tem-me afetado muito a vista. Nunca passa. O que o vizinho canta eu canto depois no chuveiro: tem dias Beatles, Céline Dion e Valentín Elizalde. Pensar que aparecerás à porta de minha casa é um furo. E canto. They say I got mad. Talvez estejam certos. Mas é que me aninho aqui na banheira e sou tão frágil. Brazil (Revista Gueto, n. 5, March 2018). NUNCA PASAMOS MÁS ALLÁ DE TAPROBANA Pensé que no vivía más. Cuando el vecino canta, yo prendo un cigarro y pienso que rayé – a propósito – tu vinil con las llaves de la casa. No more imagine me and you. You and I. Años sesenta, The Turtles, allá van ya. Preguntas si pasó, te digo que no. Nunca pasa. A thousand years, seis meses, nunca pasa. Pensé realmente que no vivía más, casi morí; sin samba, estatuilla o benesses. Perdí la bicicleta, la cabeza, el teléfono, aquel puntiagudo y pequeño pulso tembloroso. Juré por eso que nunca más te vería y reí con fervor de los que ríen con fervor y los que ríen con fervor de los que ríen con fervor se rieron de mí. Sollozaba continuamente cuando me dije a mí misma esta verdad triple y absoluta: you have no woman, no dog, nor country. Pongo las manos frías sobre los ojos. Vivir me ha afectado mucho la vista. Nunca pasa. Lo que canta el vecino yo lo canto después del aguacero: Tiene Beatles, Céline Dion y Valentín Elizalde. Pensar que aparecerás a la puerta de mi casa es una herida. Y canto, They said I got mad. Tal vez tengan razón. Pero es que me acurruco aquí en la tina y soy tan frágil. Traducción de Álvaro Cortés. Mexico (El Universal, diciembre 2018). |
CORO DAS AMÉRICAS and then I could not see to see Emily Dickinson Não morremos uma mulher de olhos cobertos rezava freneticamente entre os trovões impressionantes três gritos, o coro mais desafinado das Américas e os dedos apertadíssimos Quase morremos mas não morremos não saiu, meu amor, obviamente nas notícias ninguém lerá sobre um avião que quase caiu ninguém lerá sobre nós que quase morremos Morrer entre São Paulo e o Rio de Janeiro seria trágico, mas nem tão trágico assim pois como não há mistério na vida não há também na morte mistério nenhum Olhávamo-nos com espanto, os pés gelados sobre a garantia de estarmos vivos as pálpebras trementes Como quis dizer-te que não tive medo, e não o tive consumiu-me antes o fim da linguagem, o início do amor os lábios premidos em Guaratinguetá Quase morremos mas não morremos e ainda assim não esperas que abra eu o abacate (do café da manhã, no fim da cozinha estreita, com as duas mãos; o meu grande e literário logro fervido o café entre as gatas e a luz) É pena porque o aprendi com os de cá e há uma técnica De frente para a morte são elas, as técnicas, que importam pelo teu sorriso a abrir-se à nossa inocência compartilhada sobre os abacates e os cigarros que fumávamos para adiar a escuridão Brazil, 2017-2018. Presented and performed in the US (2018), Portugal (2018) and Mexico (2019). |
UM QUADRO BRANCO SOBRE UM FUNDO BRANCO
Quando Malevich pintava os pássaros eram destinados a rectângulos e as mãos das raparigas a linhas horizontais vermelhas azuis verdes ou amarelas que eram as cores com que Malevich não pintava pássaros ou mãos de raparigas mas a subtração entre os dois. Notável a destreza com que Malevich suspendia o dedo indicador sobre a mesa para dizer Não é mais preciso pintar aquilo que se vê Mas ninguém entendia Malevich e Malevich aborrecia-se. Aspirando à prática das suas considerações Malevich tinha os dois pés sobre um banco quando numa das tardes de 1915 terminou um quadrado preto sobre um fundo branco. Fumava uma cigarrilha e hesitava: Mostrá-lo aos amigos, aos alunos? Expô-lo numa galeria, colocá-lo no museu? Um quadrado preto sobre um fundo branco. Que mais podes querer, Kazimir Malevich? Um quadrado preto sobre um fundo branco. Mas Kazimir Malevich queria mais: um quadro branco sobre um fundo branco. Eriçaram-se em 1918 os cabelos de Malevich perante aquela forma que não era outra coisa senão a eliminação de todas as formas. Malevich pensou: nunca mais pinto um quadro. Aleksandra Ekster pensou: Malevich nunca mais pinta um quadro. Mas Malevich pintou. Muitos esqueceram até o que Malevich disse com o dedo em riste num atelier em Verbovka Resta-lhes apenas a imagem do seu indicador volátil. Alguns juram ainda tê-lo ouvido murmurar em 1935 como se alinhasse a testa com a morte: Então a tua lição, Kazimir Malevich, nunca esteve na eliminação de todas as formas mas na impossibilidade de eliminá-las. Por isso um quadro branco sobre um fundo branco serve unicamente para: 1) redestinar os rectângulos a pássaros 2) abrir as paredes e destrinçar todas as cores 3) entender que o grito antecipa a boca 4) desenhar bocas para o grito 5) isto é, desbocar Presented in Porto, 2018. Published in Études Lusophones (France), 2019. |
QUERO UM SAMBA DE RAIZ O BUSTO DO LEÃO
Hebreu 5k de Kavafy Vertov até à falta da visão Quero um cavalo de corrida duas mulheres sentadas sem roupa impuras um copo cheio de limonada Quero muito escrever um conto sobre baratas que apareça outro gato desgrenhado numa caixa de batatas ao chegar ao teu parque de estacionamento Quero dezoito acordes de violino e uma hora de esclarecimento numa pastelaria com wi-fi sobre a teoria das cordas Quero que todos saibam que eu quero saber como é quando acordas Quero uma taça de gelatina duas colheres metálicas o cheiro das tuas orelhas numa tarde farta de dálias Quero muito as tuas mãos pequenas sobre a minha testa um beijo húmido à entrada da casa e outro à saída da festa Quero a chávena média o cobertor do lado esquerdo do sofá dormir quero tanto dormir contigo 250g de açúcar no chá Quero todos os lugares onde tu estás ou estiveste que no meu funeral chores mais que todos que rasgues uma veste Quero ir do Porto ao Haiti e escrever uma epopeia uma lição um orgasmo um verso um sermão uma ideia Quero a tua cabeça apenas a tua cabeça nas minhas costas um pão com manteiga os meus lábios nas tuas unhas tortas Published in Portugal (Enfermaria 6, 2014). Presented in Brazil (2017), Mexico (2018), Portugal (2018) and the US (2019). |
JE NE SAIS PAS
Não sei se a Teresa se a Marta a Teresa é uma roda de samba a Marta escreve em vidros embaciados hi there why don’t you give me a call? xxx Eu porém Patrícia não sei comprei um lenço arrisquei-me cruzei a porta e faltei às duas declarando rinite alérgica Que pena que você não vem etc., etc. as melhoras, um beijo etc., etc. Essa rinite vai a durar a vida toda etc., etc. é melhor parar por aqui etc., etc. E foi às portas da livraria que fingi assoar-me tossir tomar de uma golada o Rinialer e pensei: há ± 2500 anos que ninguém me ama. I don’t even know how to return a call. Saldo 0€, telephobia o direito a estar calado, qualquer coisa assim, trágica, como um peixinho a treinar respiração dentro de água, por exemplo: Published and exhibited in Brazil: Um Conto — Revista de Literatura, 2014 Museu da Língua Portuguesa (São Paulo), 2015 Caixa Cultural Salvador, 2016 Caixa Cultural Rio de Janeiro, 2017 |
PRIMEIRO E ÚLTIMO DIÁLOGO
Never again would birds' song be the same. And to do that to birds was why she came. Robert Frost – Quantos poemas há sobre isto em quantas línguas tremendas efémeras não houve quem jurasse ter amado tanto mais que os outros mais que todos mais que os que virão Quantos tremelicando e tropeçando não terão dito de olhos postos num umbigo numa braguilha ou num dedo eu amo-te serei para ti mais que asa e tempestade Acontecemos por séculos e há séculos de nós nas bibliotecas – É este porém o nosso modo de falar desde os inícios dos tempos de joelhos unidos com a língua a roçar estas mesmas palavras porque nos deram mais que tudo palavras e não outra coisa Este modo este mesmo modo com que me ergo e afasto os dentes e assopro o lábio esquerdo enquanto me esperas com os olhos a alargarem-se expansivos por debaixo dos meus Não te movas ainda não te movas agora que a luz se abriu O teu nome está na minha cabeça onde começa a minha cabeça (Mãos serpenteadas furiosas abertas) — Aqui. Aqui: – Eu amo-te serei para ti mais que asa e tempestade que ao amor esse bicho forte não bastam os séculos nem nós de facto tão pouco diferentes pelos séculos adentro – O acidente magnânimo que é o amor – O acidente único e consecutivo que ele é sobre estas pálpebras tão frágeis Como vou eu suportar o amor – Como vou eu abrir os olhos ao amor Brazil (Modo de Usar & Co., 2014). Presented in Portugal (2018) and the US (2019).. |
A PANTUFA
I As nossas enormes pantufas tinham orelhas, bocas e dentes para que desbravássemos o chão, a casa e os pais e suportássemos com um leão nos dedos o frio português As pantufas vendem-se no supermercado, são para crianças (porque os adultos, alguém disse, parecem ridículos com elas) e o seu preço sobe ou desce a partir do quão exótico o animal é. Mas nem todas as pantufas têm a forma de um animal, exótico ou não, e nem todas as crianças têm pantufas, com a forma de um animal ou não. Nós tivemos um par cada um, cuidámo-lo, crescemos e esquecemo-lo como esquecemos o conforto do nosso país, da casa e dos pais por agora desbravarmos outras terras e outros idiomas, estrangeiros, tu e eu sem um leão nos dedos, com algum azar, solidão e brio. II Pantufa vem do francês pantoufle; em inglês diz-se slipper (do verbo to slip, e lembra slippering, que é um castigo a chicotadas, reguadas ou chineladas. Atroz, absoluto). Pantufla, do espanhol, tem entre as fonéticas a mais cheia e confortável: como devem ser de resto as próprias pantufas inventadas ninguém sabe ao certo por quem nem quando e onde. Este, Oeste, século XII. Regalia certamente de poucos cobiçada talvez por alguns e desconhecida de muitos, a pantufa mais antiga do que o astrolábio, existe há tanto tempo como a bússola e há quase tanto tempo como a ambulância. A pantufa não consta entre os objetos que se levariam hipoteticamente para uma ilha deserta. A pantufa não salva nem alimenta. Aquece. E como qualquer objeto III foi adquirindo ao longo do tempo novas funções e feitios. No século XXI a pantufa é usada nos desertos dos Estados Unidos: El Paso, Arizona ou San Diego. Feita à medida de todos os sapatos indocumentados a pantufa, vendida por mexicanos a mexicanos, cobre as pegadas dos que, numa mão, carregam os filhos e na outra a garrafa de água. A garrafa de água, forrada com fita-cola, afasta o sol; evita também o reflexo do sol no plástico e o disparo de uma AR-15. Não parecem ridículos os indocumentados ao longo da fronteira. A pantufa, maciça e multiplicada prediz o número de corpos desaparecidos. As famílias dos mortos jamais recebem de volta as pantufas. Há por isso quem, além das garrafas forradas colecione pantufas perto de onde os indocumentados e as indocumentadas tombam. O debate entre os artistas estadunidenses que trabalham com pantufas e garrafas é essencialmente estético e inútil: limpar ou não a pantufa antes de colocá-la no museu? Mas não há nenhuma estética na pantufa, maciça e multiplicada ao longo da fronteira nos pés dos indocumentados. Não há estética onde não há Deus. Presented in Barcelona (Spain), Porto (Portugal) and Los Angeles (US), 2018. Published in Études Lusophones (France), 2019. |
DIOGENES FROM SAN DIEGO
Que interessa se o menino não leu Rilke
quem quer saber o que o menino viajou
que importa se o menino não sabe chinês
tanto me dá se o menino conhece os gregos
com quem ou não se dá e quantos empregos
ele tem ou não tem onde foi pai e é freguês
se o menino não conhece a teoria das cordas
& o poeta mais recent. If he talks proper english
if he doesn't se quer vir comigo à Amazónia
tomar sol comer açaí esperar uma pororoca
quantas mulheres viu como as beijava de boca
o menino que idade tem quantos cursos tirou
filosofia nenhum engenharia mecânica SPB
ninguém sabe o que é a literatura ó pai e o futuro
ó mãe e a casa e os filhos a maçã no forno e oh
o menino escreve crónicas poemas mesmo o quê
se já leu os Goliardos se emprega bem sine qua non
sine qua non eu sem o menino e o menino sem mim
se lê Dante em italiano que 3736 x 4328 é = a 16169408
e o que é um ditirambo e que cores tem um chupim
molothus bonariensis, brió, catre, corixo, chopim-gaudério
vira-vira Adónis do novo mundo galã da novela das oito
que me importa menino senão que és o outro hemisfério
se dizes holy! se dizes yes! e como se perdido num silabário
me chamas pelo nome: pa-trí-ci-a pa-trí-ci-a pa-trí-ci-a
Portugal (70 poemas para Adorno, 2016). Brazil (Jornal Relevo, 2016). US; Portugal (VIRADA, 2020).
Presented in the US (2018/2019), Portugal (2018) and México (2019).
Que interessa se o menino não leu Rilke
quem quer saber o que o menino viajou
que importa se o menino não sabe chinês
tanto me dá se o menino conhece os gregos
com quem ou não se dá e quantos empregos
ele tem ou não tem onde foi pai e é freguês
se o menino não conhece a teoria das cordas
& o poeta mais recent. If he talks proper english
if he doesn't se quer vir comigo à Amazónia
tomar sol comer açaí esperar uma pororoca
quantas mulheres viu como as beijava de boca
o menino que idade tem quantos cursos tirou
filosofia nenhum engenharia mecânica SPB
ninguém sabe o que é a literatura ó pai e o futuro
ó mãe e a casa e os filhos a maçã no forno e oh
o menino escreve crónicas poemas mesmo o quê
se já leu os Goliardos se emprega bem sine qua non
sine qua non eu sem o menino e o menino sem mim
se lê Dante em italiano que 3736 x 4328 é = a 16169408
e o que é um ditirambo e que cores tem um chupim
molothus bonariensis, brió, catre, corixo, chopim-gaudério
vira-vira Adónis do novo mundo galã da novela das oito
que me importa menino senão que és o outro hemisfério
se dizes holy! se dizes yes! e como se perdido num silabário
me chamas pelo nome: pa-trí-ci-a pa-trí-ci-a pa-trí-ci-a
Portugal (70 poemas para Adorno, 2016). Brazil (Jornal Relevo, 2016). US; Portugal (VIRADA, 2020).
Presented in the US (2018/2019), Portugal (2018) and México (2019).
CARTA AO POETA CONTEMPORÂNEO
És menos que um grão de areia da Praia Vermelha e no entanto tão privilegiado Não estás vivo porque escreves Escreves porque podes dar-te ao luxo de escrever e estavas vivo antes disso O poema é um exercício de humildade Se fores à Praia Vermelha, descalça-te Faz o que tiveres de fazer (água de coco mergulhar os pézinhos, proteger-te do sol magnânimo, pulular uma ode, resistir à beleza do Pão de Açúcar, apaixonar-te compor uma trança, ignorar com certa elegância a curiosidade dos meninos) Toma sempre o café da manhã Põe a língua de fora, ácida grega, o mais que puderes Perdoa-lhes a arrogância Insiste tanto no primeiro verso como no amor: muito pouco Presented and performed in the US, Portugal, Colombia, and Mexico. |
GENERAL EVALUATIONS Número de poemas publicados: 0 Consultas no terapeuta: 24 Estado geral das coisas: excesso de louça na pia a falta permanente de um cão uma das pernas a direita adormecida outra língua inveterada pelas manhãs Há dias úteis em que o coração bate mais depressa outros em que o coração bate mais devagar Não importa o que possa fazer eu com as mãos se fecho os olhos aperto o ar ou se me inclino O coração há de sempre bater mais depressa ou mais devagar O nome do cão que me falta é Argos A beleza íngreme do canto XVII, para que servem os clássicos de que servimos nós uns aos outros, e o amor Quando me inclino para acelerar ou abrandar a batida do coração costumo fazê-lo para a frente, 90 graus tortos porque não tenho elasticidade Há quem chegue e pergunte: dói? Há quem chegue e diga: dê meia volta E me pontapeie E há tanta graça na paronomásia que todas as minhas conversas na terapia são paranomásicas A minha antiga partner sofria de psicopatia folia enguia esguia engolia todo o meu amor próprio Não havia maneira eira grosseira de não estar à beira de um buraco Ah buraco sapato caco tantas modos psicanalíticos de [definir buraco DIGA QUAL É PARA SI A IMAGEM MAIS ADEQUADA: |
Portugal (Gazeta de Poesia Inédita, 2018).
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