PATRICIA LINO
  • PUBLICATIONS
    • BOOKS
    • POEMS
    • POETOGRAPHICA
    • ARTICLES
  • ABOUT
    • BIO
    • PRESS
    • CV
  • EVENTS
  • CONTACT
  • PUBLICATIONS
    • BOOKS
    • POEMS
    • POETOGRAPHICA
    • ARTICLES
  • ABOUT
    • BIO
    • PRESS
    • CV
  • EVENTS
  • CONTACT
CORO DAS AMÉRICAS


                                        and then
                                        
I could not see to see

                                        Emily Dickinson
​

Não morremos
uma mulher de olhos cobertos rezava freneticamente
entre os trovões impressionantes
três gritos, o coro mais desafinado das Américas
e os dedos apertadíssimos

Quase morremos
mas não morremos
não saiu, meu amor, obviamente nas notícias
ninguém lerá sobre um avião que quase caiu
ninguém lerá sobre nós que quase morremos

​Morrer
entre São Paulo e o Rio de Janeiro
seria trágico, mas nem tão trágico assim
​pois como não há mistério na vida
não há também na morte mistério nenhum
Olhávamo-nos com espanto, os pés gelados
sobre a garantia de estarmos vivos as pálpebras trementes
Como quis dizer-te que não tive medo, e não o tive
consumiu-me antes o fim da linguagem, o início do amor

os lábios premidos em Guaratinguetá

Quase morremos
mas não morremos
e ainda assim não esperas que abra eu o abacate
​(do café da manhã, no fim da cozinha estreita,
com as duas mãos; o meu grande e literário logro
fervido o café entre as gatas e a luz)

​É pena
porque o aprendi com os de cá e há uma técnica
De frente para a morte são elas, as técnicas, que importam
pelo teu sorriso a abrir-se à nossa inocência compartilhada
sobre os abacates e os cigarros que fumávamos para adiar a escuridão
Click to listen to minute 1.
Brazil, 2017-2018. Presented and performed in the US (2018), Portugal (2018) and Mexico (2019).

​© LINO. 2023.
  • PUBLICATIONS
    • BOOKS
    • POEMS
    • POETOGRAPHICA
    • ARTICLES
  • ABOUT
    • BIO
    • PRESS
    • CV
  • EVENTS
  • CONTACT