Capítulo 4: O COLONIZADO SUSTENTA O PATRIARCADO. Publicado na escamandro (Brasil, 2020).
ANTICORPO. UMA PARÓDIA DO IMPÉRIO RISÍVEL
44 min. US-Portugal 2019-20. Realização de Patrícia Lino. O videopoema Anticorpo. Uma Paródia do Império Risível (45 min.) estreou nos Estados Unidos em outubro de 2019. Foi, depois, exibido em vários lugares de Lisboa e do Porto durante dezembro do mesmo ano. Dividido em dez capítulos (“Introdução”, “O império ou o elogio da pobreza”, “A tara portuguesa”, “O colonizado sustenta o patriarcado”, “Fruta, ou a morte do império português”, “Versão renovada de um hit nacional”, “Não falo, mas grito por dentro”, “Adeus Macau”, “Museu das Descobertas”, “Virar do avesso o país”), Anticorpo apropria visual e musicalmente centenas de vídeos publicados e divulgados, sobretudo, pela extrema-direita portuguesa no Youtube. Cada um dos dez capítulos cobre uma manifestação específica do colonialismo antigo e moderno português e reúne, ao apropriar o caráter reiterativo do discurso nacionalista e colonial, textos pouco sofisticados e repetitivos que se mesclam, ironicamente, com a dimensão robótica e, ao mesmo tempo, instintiva da música (“O império só é império/ quando o português agradece/ por ser pobre// E o pobre segue pobre/ e o nobre segue nobre”, cap. 2). EXIBIÇÕES PASSADAS — MAIO-JUNHO 2021: "Mulheres nas descolonizações". Museu do Aljube & Hangar. Lisboa, Portugal. — 10 DE JULHO DE 2020: "De onde venho para onde vou". Txon-Poesia. Mindelo, Cabo-Verde. — 8 DE MAIO DE 2020: Global Early Modern Group Annual Conference. University of California, San Diego. San Diego, US. — 9 DE MAIO DE 2020: TXON-POESIA. Festival Internacional de Poesia e Poética do Mindelo. Zero Point Art. Mindelo, Cape Verde. — 4 DE JANEIRO DE 2020: CSA A GRALHA — Espaço Social Auto-gerido. Porto, Portugal. — 18 DE DEZEMBRO DE 2019: Instituto de Ciências Sociais (ICS), Universidade de Lisboa. Lisboa, Portugal. — 20 DE DEZEMBRO DE 2019: Rosa Imunda. Porto, Portugal. — 17 DE OUTUBRO DE 2019: San Diego State University. San Diego, US. |
"Para além de apresentar estes traços da ideologia nacional/imperial criada pelo regime salazarista, Patrícia Lino assinala a persistência deste imaginário no Portugal democrático. Realce para a evocação da música «Conquistador», do grupo Da Vinci, uma canção de 1989 que celebra a glória imperial dos portugueses em moldes não muito diferentes do discurso salazarista. Patrícia Lino destaca um instante muito revelador do vídeo dessa música: as ‘backing vocals’ dos Da Vinci são mulheres negras que, um tanto paradoxalmente, também elas cantam as glórias das conquistas portuguesas em África. Refira-se, já na parte final do ANTICORPO, as cenas da cerimónia da transferência, para a China, da soberania portuguesa sobre Macau (final
de 1999), ou a sequência de imagens do Padrão dos Descobrimentos e de outros monumentos ligados ao passado colonial no Portugal dos nossos dias." Pedro Cardim "Do blablablá dos discursos enaltecedores do império colonial, da forma exaustiva com que se repete a sua lengalenga, das imagens e histórias que ele produziu, Patrícia Lino criou também uma eficiente arma neutralizadora: um objeto poético. Eu não poderia imaginar melhor forma para esta arma. Explico o porquê. A imposição da língua portuguesa nas colônias foi uma estratégia consciente de complementar e aprofundar a dominação sobre os povos nativos. João de Barros, o intelectual português do século XVI que melhor defendeu esta ideia, conseguiu convencer o rei a adotá-la com a seguintemáxima: 'A língua caminha junto com o império'." Luca Argel Most of Lino’s works confront readers/spectators (as well as reviewers) with their own prejudices. Not only does Anticorpo defy the idea of a book, and by extension literature, but more importantly it requires an engagement that goes beyond the logos and the solemnity associated with it. Traditionally, parody has been considered an inferior genre, a mere inversion of the original codes whose main aim is to critically tackle an issue through the lens of humor. In this sense, Lino’s playful elaboration does fulfill its purpose: to provoke an unpleasant and corrosive laughter that’s both infuriating and relatable. Perhaps the personal, ludic appropriation and repurposing of archival images is not new in the Lusophone arts, but it is definitely rare within the Portuguese literary field. [Excerpt of Isaac Giménez's review. Click here to read it] |